domingo, 4 de março de 2012

‘LEVA MEU SAMBA’ – ELIZETH CARDOSO E ATAULFO ALVES JR






Ganhei uma “edição histórica” rara de CD da gravadora Eldorado que reuniu Elizeth Cardoso e Ataulfo Alves Jr em 1984 no LP “Leva Meu Samba”, onde a “Divina” como era chamada Elizeth carinhosamente reascende a paixão pela obra atemporal de Ataulfo Alves, compositor que há pouco completou 100 anos de nascimento, deixando um vazio imenso com sua partida.

A edição do CD é muito desleixada e nem mesmo existe o nome original do LP, mostrando o que já se tornou rotina entre os que trabalham nestas gravadoras: “despreparo e desconhecimento” para não falar no desrespeito a memoria de mestres, como é o caso de Elizeth e Ataulfo.

Mas ouvir a voz de Elizieth Cardoso é por demais prazeroso. Parece que cada canção foi feita para sua voz... Até hoje, quando ouço algumas canções penso o quanto as mesmas ficariam bonitas na voz dela, e em 1984 ela encontrava -se plena e com a voz lindissima.

Ao lado do filho e herdeiro musical de Ataulfo Alves, ela mostra o que é fazer um Tributo à obra de um compositor. Certamente, os produtores que hoje trabalham incansaveis nas homenagens aos grandes compositores que partiram devem sentir muito não ter a voz de Elzieth para poder valorizar esses tantos tributos.

Sem medo de colocar sua voz em classicos que tornaram-se praticamente a fotografia de suas primeiras interpretes, Elizeth Cardoso coloca sua voz à serviço da musica quando transforma num tango delicioso a canção “Errei Sim” que vive grudada a voz e a imagem de Dalva de Oliveira, sendo imbativel a interpretação de Elizeth.

Fico a imaginar a reação da plateia que a ouviu neste show, assim como imagino a reação que o Japão teve ao ver e ouvir “A Divina” em suas terras, quando Elizeth gravava esse “LP” havia acabado de chegar de uma turne naquele pais, que a recebeu da maneira mais calorosa possivel.

Elizeth Cardoso e Ataulfo Alves são daqueles talentos que qualquer nação deste mundão cultuaria incansavelmente séculos afora. Infelizmente, ainda temos que criar esta “cultura” do culto aos que constroem a cultura de nosso pais.

Passou da hora de prepararem caixas com todas as gravações de Elizeth Cardoso, assim como estamos atrasadissimos em disponibilizar o material em video que colecionadores, emissoras de TV possuem e estão mofando em algum canto qualquer.

A Divina Elzieth Cardoso é estrela eterna!






Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br

André Luis Moura de Menezes
Correção Afetiva
menezesalm@gmail.com

MEU POBRE CORAÇÃO TREME DIANTE DA “DAMA INDIGNA”






Boquiaberto, assisti do inicio ao fim, sem me mover do sofá de sala, o DVD da cantora Cida Moreira, ‘A DAMA INDIGNA’, lançado pela gravadora Lua Music, show saído do CD do mesmo nome lançado na estreia da gravadora Joia Moderna.

Com bela produção de Thiago Marques Luiz e da propria Cida Moreira e Direção de Humberto Vieira, o DVD me transportou a um tempo onde cada show que assistia - fosse num auditorio imenso ou numa sala como a da Funarte em São Paulo - nunca voltava para casa sem ter milhares de informações novas que me levassem a uma busca, por meses a fio, de poetas e compositores que não conhecia, até então.

Nos anos 70 e parte dos 80 os shows, principalmente das cantoras da MPB, eram recheados de novos compositores, de versos, textos e manifestos que elas liam, declamavam e cantavam durante suas apresentações, e foi assim que Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Paulo Leminski, Brechet, Maiakovski e tantos outros invadiram definitivamente minha vida e minha casa.

O DVD “A Dama Indigna” me trouxe esta lembrança, terminei e fui correndo ler Cesare Pavese. Tenho aqui em casa comigo desde o lançamento os CDs de Cida Moreira que tem destaque sempre que quero sentir minh’alma enriquecida por saberes emanados a partir da voz que acolhe e chacoalha: uma canção pelo ar... E Cida Moreira canta Chico Buarque que junto ao Cd “A Dama Indigna” e ao DVD que entrou direto em minhas veias, formam um campo sagrado em minha estante.

A Dama Indigna precisaria ser distribuído a todas as escolas do Brasil para que uma nova geração fosse formada a partir do contato do que podemos chamar de CULTURA, pois um Brasil que tem esta DAMA tão digna a lutar para manter uma carreira tão coerente deve ser, sim, um pais de destaque.



Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br

André Luis Moura de Menezes
Correção Afetiva
menezesalm@gmail.com