domingo, 27 de setembro de 2009

VALE A PENA TENTAR GOSTAR DE SIMONE.







Desde a segunda metade da década dos saudosos anos 80, gostar da cantora Simone passou a ser sinônimo de “gosto musical duvidoso” principalmente entre a chamada “elite pensante” das principais capitais do pais.

O coração sempre apertava quando em roda de conversa eu insistentemente citava o nome da cantora e suas canções. Geralmente era agraciado com a benevolência dos amigos por eles saberem que eu também gostava de Caetano, Gil, Chico e, sobretudo, porque como pesquisador da MPB iniciava a construção de um acervo digno dos amantes da boa música.

Os anos foram passando, o novo século chegou e desde então não me alegrava tanto um trabalho novo da cantora que embalou minhas dores de amor e minhas lutas ideológicas ao longo da mocidade.

O titulo do trabalho foi extraído de uma música inédita composta especialmente para ela por Martinho da Vila, chamada: “Na Minha Veia” , que diz assim “...riqueza da minha rima / o verso da poesia / gostosa gastronomia / a minha ideologia...” daí o CD chamar-se “Na Veia”.

Para quem como eu acompanha há muitos anos a carreira de Simone é perceptível que ela vive um momento de felicidade pois sempre disse em entrevistas sonhar em gravar composições de Marina Lima, Adriana Calcanhoto, Erasmo Carlos e neste trabalho ela ganhou canções inéditas feitas especialmente para ela por estes compositores de peso na MPB. Sem dúvida alguma: é um trabalho composto pelos melhores de nosso tempo.

O parceiro numero um do rei, Erasmo Carlos, entregou duas músicas inéditas a Simone para o CD, e uma delas nasce como um clássico, intitulada “Migalhas”. Diz mais ou menos assim: “ ... não foi esse o mundo / que você me prometeu/ que mundo tão sem graça / mais confuso do que o meu ...” eis o parceiro numero um se tornando o rei, pelo menos neste novo trabalho de Simone.

O CD tem ainda Paulinho da Viola, compositor que a cantora sonhou um dia fazer um cd tributo, e uma bela homenagem ao compositor e cantor Agepê com a regravação que encerra o belo CD intitulada “Deixa Eu Te Amar”.

O mais surpreendente neste CD é a coragem da cantora em retomar uma composição própria, feita nos anos 70, em parceria com o poeta Hermínio Belo de Carvalho, intitulada “ Vale a Pena Tentar”. A canção começa assim: “ ... talvez eu te proponha/ a coisa certa...”, é de encher de brios os fãs, que devem manter a cabeça erguida e a espinha ereta, pois são especiais os que cultuam uma DIVA tão cheia de energia e beleza !




Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

“MARIA GADÚ” – EIS O NOME!


Será que algum fã de M.P.B. já havia imaginado Marisa Monte cantando uma canção que tenha sido sucesso popular na voz de Kelly Key ?? Certamente este não é um dos mais escabrosos pensamentos sobre nossa música visto que Marisa Monte já cantou em seus shows sucessos de Gretchem.

Agora certamente ninguém jamais imaginaria uma cantora de M.P.B. das boas ser apresentada ao grande publico em seu primeiro trabalho regravando uma canção de Kelly Key, pois Maria Gadú faz isso em seu primeiro CD que chega ao publico nestes dias de setembro, cantora que chega mostrando uma personalidade única em nossa música.

Poderíamos dizer que ela é um mix de atitude das grandes divas da M.P.B. Seria como se puséssemos num liquidificador as melhores cantoras da musica brasileira dos anos 90: Marisa Monte, Cássia Eller, Adriana Calcanhoto e outras, e ao provar a mistura sentiríamos um novo sabor... é isso!

Maria Gadú é fã confessa de Marisa Monte, e em algumas canções temos a impressão de estar ouvindo a própria Marisa cantar. Franzina e tímida, tem feito aparições em programas de TV onde quando canta permanecesse de olhos fechados o que dá um certo charme especial a ela.

O primeiro CD trás composições da própria Maria Gadú já marcando território como uma grande compositora e uma interpretação visceral do clássico “Ne Me Quitte Pas” do compositor francês Jacques Brel, regrava também de Chico Buarque e Edu Lobo a canção “A História de Lilly Braun” composta para a peça teatral “O Grande Circo Místico” pela dupla de compositores e gravada originalmente por Gal Costa.

Agora o que tem que acontecer é o seguinte: o maior numero possível de pessoas ouvirem esta cantora para aprender a apreciar seus versos e seu jeito, que se traduzem nesta composição dela que já toca em algumas rádios:


… Natureza, deusa do viver
A beleza pura do nascer
Uma flor brilhando a luz do sol
Pescador entre o mar e o anzol
Pensamento tão livre quanto o céu
Imagine um barco de papel
Indo embora para não mais voltar
Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar …

Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br

Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva

“PRA SE TER ALEGRIA” – DVD DE ROBERTA SÁ.


Roberta Sá lança neste final de inverno o primeiro DVD de sua carreira musical já consagrada, com direção geral de um de seus parceiros mais fiel: Pedro Luis. O belo registro do show surgido a partir do lançamento de seu cd “Que Belo Estranho Dia Para Se Ter Alegria” que serviu de base de repertório para o trabalho que chega ao cenário da MPB.

Certamente este é o mais singelo e delicado trabalho em DVD do ano de 2009, dificilmente teremos o lançamento de algum DVD da MPB este ano recheado de tamanhas sutilezas e delicadezas. Tudo no DVD é singelo, desde o comportamento em cena de Roberta Sá, passando pelo simples e delicado figurino e o impecável repertório selecionado.

Atravessamos um ano onde inúmeras cantoras vem chegando com seus primeiros e segundos trabalhos, e já se torna possível antever quem veio de fato para ficar no cenário e ganhar a constelação e as que logo cairão no limbo.

Bela moça, Roberta Sá poderia usar de seus atributos físicos para arrebatar a platéia, mostrando pernas saradas, decotes generosos ou micro vestidos que a deixariam sensual, nada disso é explorado por ela, que centra-se em sua bela voz para embevecer a legião de fãs que foram a gravação deste trabalho. O amigo Pedro Luis e Marcelo D2 são os convidados especiais do show.

O show tem todos os compositores que estão acompanhando a carreira de Roberta Sá e acrescenta, sabiamente, Dorival Caymmi que ganha a mais arejada homenagem desde sua partida,.Também temos o privilégio de ouvir canções compostas pela própria Roberta e seus parceiros.

Recheado de clipes extras, que nos leva a ver e ouvir a cantora ao lado de Chico Buarque e Ney Matogrosso, mas o que enche os olhos mesmo é seu duo com o cantor português Antonio Zambujo pois nos prova que a distância entre Portugal e Brasil inexiste aos olhos da bela música.


Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br

Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva