terça-feira, 29 de dezembro de 2009

QUANDO O CÉU CLAREOU PARA FABIANA COZZA PASSAR


Fim de ano chega e lá vem uma enchurrada de CDs, DVDs , tibutos, boxes, enfim, tudo que faz mover a engrenagem capitalista que à duras penas faz a cultura movimentar-se. A grande maioria dos lançamentos deste periodo é tão obvia que para os que admiram e acompanham a MPB quase nada tem interesse.

Mas eis que chega dezembro de 2009 e a gravadora Lua Music, em parceria com a TV Cultura, fazem chegar até o grande publico que devora cultura o primeiro DVD da cantora, que ao meu ver retomou a magnitude das interpretações femininas no ceneario da MPB desde a aparição de Elizeth Cardoso... Simplesmente falo de Fabiana Cozza.

Sabemos de todas as dificuldades que uma cantora que não pertence ao casting de uma grande gravadora deve ter sofrido até fazer com que este belissimo trabalho chegasse aos estandes das lojas, afinal este trabalho foi gravado no Auditorio Ibirapuera, em 2008, tendo percorrido longo ano até chegar até nós.

Tive a oportunidade de assistir a esta gravação e foi aí que Fabiana Cozza entrou de vez em minha vida, e entrou com força que desde então não há sequer uma participação sua em shows que não faço o possivel para lá estar. Me encanta seu jeito forte e ao mesmo tempo doce de ocupar todos os espaços do palco.

Cantora de voz privilegiada e de um canto personalizado, raras são as cantoras da MPB que deixam sua marca no canto e Fabiana Cozza pertence a este time, sei lá, seria ela talvez uma mistura de Clara Nunes, Bethânia, Simone, Elis Regina e Elizeth Cardoso?? Quem sabe?

Mas isso não importa, o que realmente impoorta é que este registro que tras em seus extras uma videografia de Fabiana para que aqueles que não a conhecem possam entender sua trajetória dentro do universo musical brasileiro, e foi neste documentário que revi uma cantora que tem em minha opinião tem um dos mais belos discos que perpetuam a obra de Noel Rosa, a inigualavel Ione Papas. Vale não só conferir os extras do DVD “Quando o Céu Clarear” de Fabiana como ir atrás do CD tributo a Noel Rosa gravado anos atrás por Ione Papas.

O CD trás um belo e comovente repertorio que nos leva diretamente ao encontro das raizes de nosso povo, entendendo esse povo como latino-americano, e conta com as participações de Maria Rita (reverenciaando Fabiana da maneira que ela merece) e de Rappin’ Hood numa das mais comoventes fusões de ritmos que nossa música já viu. Vale conferir! Vale comprar! Vale divulgar, pois estamos diante de um dos mais recentes clássicos da MPB.


Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Revisão Afetiva: André Menezes

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O BELO CORAÇÃO VAGABUNDO DE CAETANO VELOSO


Amores antigos e verdadeiros nunca deixam de reascender dentro do peito, principalmente quando passamos dos 40 anos e um certo ar saudosista começa a se instalar feito posseiro dentro de nossos corações, o amor por Caetano Veloso e sua arte é assim.

Eu e meu menino saímos num sábado quente de dezembro a passear pela Av. Paulista, aqui em São Paulo, atrás de comprar os presentes de Natal que ele me pedira: livros, DVDs e alguns jogos para seu Nitendo DS, após a caminhada e o almoço chegamos a nossa livraria predileta.

Algumas horas caminhando dentro da livraria e pronto todos os presentinhos comprados. Estávamos na fila para pagar as compras, quando vejo numa estante repleta de DVDs, o filme documentário: “Coração Vagabundo”, em uma capa com acabamento lindo e acima, em vermelho, escrito “Edição de Colecionador”. Já havia ouvido falar do filme e visto alguns de seus trechos em canais de TV por ocasião de alguma mostra de cinema ao longo do ano.

O coração disparou e logo lembrei que andava de mal de Caetano Veloso já há alguns anos, mas o amor que se guarda numa das saletas da alma gritou mais alto e pedi ao Gustavo para apanhar na estante aquele DVD onde em vermelho líamos “Coração Vagabundo”. Foi assim que Caetano, nesta tarde de sol, voltou a habitar minha vida e minha casa.

Alguns dias depois de chegar em minha casa o DVD, o mesmo rodou para deleite meu e de meu amor, assisti a tudo encantado, já o amor que é de outra geração perdeu algumas partes, com a impaciência que lhe é peculiar diante da telinha. E eu não terminei de assistir, ainda com os olhos marejados de lágrimas.

Depois assisti ao pocket show (maravilhoso!) no segundo DVD, de fato somos um país sortudo mesmo, afinal ter Caetano Veloso produzindo há tanto tempo é privilégio de poucos, mundo afora, só para se ter uma vaga idéia das emoções que o filme trás, temos nele depoimentos de Almodóvar e de Michelangelo Antonioni (maior cineasta italiano vivo). Que alegria reencontrar este amor.

E desde este reencontro amoroso uma canção de Caetano não me sai da cabeça, e me faz refletir sobre minha vida seguidamente:

Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom ...



Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Revisão Afetiva: André Menezes

CAUBY PEIXOTO E AS CANÇÕES DE ROBERTO CARLOS.


Ao ouvir o novo CD de Cauby Peixoto intitulado: “Cauby Interpreta Roberto”, se reafirma dentro da gente aquela certeza que boa parte do povo brasileiro já tem: O Rei fica bem melhor nas vozes de grandes interpretes. Foi assim com o “LP” que Nara Leão dedicou a ele... Assim com o belo trabalho que Maria Bethânia fez em “As Canções que Você fez pra mim”.

Em Cauby Interpreta Roberto a sensação que temos é de que de fato estamos diante do maior interprete da musica brasileira e também diante de um de seus maiores compositores populares, alias conta a lenda que Roberto sugeriu que o primeiro titulo deste trabalho, que era “Cauby Canta Roberto” fosse alterado para “Cauby interpreta Roberto”... Pura bobagem!

Cauby canta mesmo Roberto neste seu trabalho e canta da maneira mais despudorada que já cantou. Nosso maior interprete, de voz sempre aveludada, parece em alguns momentos sussurrar em nossos ouvidos a poesia das canções românticas de Roberto, e aí não importa se quem ouve seja homem ou mulher, o que importa é que a vontade de se entregar ao amor toma todo nosso ser.

O Cd foi produzido por Thiago Marques Luis, um grande produtor que este ano nos presenteou com várias perolas, e que neste trabalho se superou ao escolher repertorio tão delicado para que Cauby Peixoto pudesse prestar homenagem ao Rei, que completou em 2009 50 anos de carreira.

No Cd encontramos as canções: “Proposta”, “De Tanto Amor”, “A Volta”, “Sentado a Beira do Caminho”, “Os Seus Botões”, “Música Suave”, “As Flores do Jardim da Nossa Casa”, “Não se Esqueça de Mim”, “Desabafo”, “Olha’,
“A Distância”, O show já terminou, todas transformadas em obras primas na interpretação magistral de Cauby Peixoto.
O Rei não convidou Cauby Peixoto para seu especial de fim de ano, obviamente porque Cauby não pertence a nenhuma grande gravadora, mas certamente este tributo ao Rei será transformado em show e em DVD porque nunca Cauby Peixoto mereceu tanto o titulo de Rei da canção Popular brasileira como hoje.



Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Revisão Afetiva: André Menezes

VINICIUS DE MORAES E O SOM BRASIL DA REDE GLOBO.


O programa SOM BRASIL da Rede Globo de Televisão, que foi repaginado e teve sua reestréia na telinha no ano de 2007, parece ter voltado para ficar. Com ares de programa musical moderno, espelhado na TV européia, e o acerto em homenagear os grandes compositores da MPB através dos grandes e novos interpretes de nossa canção, funciona muito bem.

Agora, depois de três anos na grade da maior emissora da TV do Brasil três programas chegam nas lojas no formato DVD, uma alegria para os amantes das imagens de nossa canção, e Vinicius de Moraes, nosso poetinha maior, é o primeiro.

Ninguém menos do que uma das maiores DIVAS de nossa música brasileira quem comanda toda a homenagem ao poeta de nossa canção: Gal Costa, com sua belíssima voz e presença única no palco solta a voz para comandar um belo momento da MPB na TV. Gal Costa canta: “A Felicidade”, “Insensatez”, “O Amor em Paz” e encerra com “Se Todos Fossem Iguais a Você”... Iimpecável!!

Temos também o conjunto musical Bossacucanova e a cantora Cris Delano que trazem as canções de Vinicius para o universo lounge, tornando a muito próxima do publico jovem, temos também Michel Powell filho do grande Baden, que foi parceiro de Vinicius, e o grupo Criolo Doido que repaginam grandes canções do poetinha.

Mas quem rouba mesmo a cena, em minha opinião, é o violeiro Chico Pinheiro, jovem talento brasileiro e já muito respeitado no meio musical, Chico Pinheiro traz ao vocal ao longo do programa cantoras como Luciana Alves e Tatiana Parra e interpreta “Chega de Saudade”, “Lamentos” e “Coisa Mais Linda” de forma a perpetuar a genialidade do grande Vinicius de Moraes.

Outros títulos em DVD da série SOM BRASIL já estão à venda. Eis um investimento na memória da MPB que merece ser feito.



Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Revisão Afetiva: André Menezes

domingo, 27 de dezembro de 2009

PALAVRA ENCANTADA.



O desejo de ler sempre tudo o que se refere à música e poesia é algo que me acompanha há muitos anos. Como minha primeira formação academica foi no curso de História, a necessidade de juntar o que de mais belo nosso pais produz: “musica e poesia”, sempre esteve presente em meus pensamentos.

O primeiro mestre ao qual ouvi falar, e escrever sobre - afora José Ramos Tinhorão - foi o Profº Nicolau Sevcenko, em seus escritos sobre possibilidades de trabalhos interdisciplinares envolvendo as questões da leitura, pois o filme dirigido por Helena Solberg; “Palavra Encantada” é o que traduz em imagem o que sempre sonhei em discutir.

Com as participações de criadores (compositores) e criaturas (interpretes) o livro vai alinhavando a riqueza de nossa poesia e a musicalidade que habita a alma de muitos poetas brasileiros desde seculos atrás.

O documentário é uma verdadeira ode às possibilidades de um trabalho indisciplinar envolvendo todas as questões e linguagens relacioandas à cultura de nosso povo. Encontramos depoimentos de José Celso Martinez Correia, Chico Buarque, Adriana Calcanhoto, Lenine, e belissimas leituras de Maria Bethânia.

A vocação didatica do documentário se expande até um DVD extra que trás para educadores de nossas escolas possibilidades concretas de trabalhos a serem realizados nas comunidades escolares de todo o nosso pais.

Quiçá as autoridades escoalres do Brasil se apercebam do quão seria improtante que este trabalho chegasse a todas as escolas brasileiras, sobretudo as escolas publicas, e assim dando inicio ao ‘start’ à entrada, junto com os milhares de livros necessários, assim como as também necessárias imagens de nossa cultura. Já imaginaram nossos meninos e meninas assistindo a um DVD do lendário Cartola?? Eis uma dica de politica de estimulo a leitura.



Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br

Revisão Afetiva: André Menezes

sábado, 26 de dezembro de 2009

WILSON SIMONAL, EM DVD, LIVRO E TRIBUTO.










Quando eu tinha quatro anos de idade chegou até minha casa o boneco MUG, que foi divulgado pela mídia até então como amuleto de sorte para o ano novo que se iniciaria (1967), e o garoto propaganda do simpático boneco, recheado de palha, era o maior cantor daquele período, ou seja: Wilson Simonal.
Em casa não tínhamos televisão e por mais ou menos 10 anos minha mãe me levava aos sábados ou domingos à casa de uma tia que morava duas ruas à frente, em nosso bairro, para assistirmos alguns programas de TV.
E me lembro perfeitamente de ver algumas apresentações de Wilson Simonal na TV Record cantando musicas como: “Meu limão, Meu Limoeiro” e “Mamãe Passou Açúcar em Mim”. Era um som que entrava pelos ouvidos e dava uma vontade danada de sacudir o corpo, mas naquele momento, eu estava mesmo era interessado na série de TV chamada: “Perdidos no Espaço”, que acompanhava sempre que podia ir até a casa de minha tia.
O tempo passou e me tornei um ardoroso fã da MPB e no final dos anos 70 iniciei uma militância política - coisa que todo jovem, que neste período estava em Universidades pelo pais afora, fizeram. E foi neste período que tornei a ouvir falar de Wilson Simonal, mas não como o grande ídolo que foi da MPB, e sim como alguém que estava ao lado do governo militar que tanto detestávamos.
O tempo passou... O Brasil retomou a democracia e já nos anos noventa comprei uma caixinha com três CDs de Wilson Simonal que a gravadora EMI lançou. Deliciei-me ao ouvi-lo... Rememorei os sabores e cheiros daquelas tardes de sábados e domingos que visitava minha tia.
Neste mesmo período, a TV Record ainda sob o comando da família Machado de Carvalho, colocou no ar nas tardes de domingo um programa chamado “Arquivo Record” e neste período pude rever aquelas apresentações e também gravá-las para o meu acervo de vídeos da MPB.
Agora em 2009 me deparo com vários produtos que tentam jogar luz sobre a vida e a obra deste primeiro ídolo negro de nossa canção. Temos o DVD “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”, idéia do Casseta Claudio Manoel. O excelente livro: “Nem Vem Que Não Tem – A Vida e o Veneno de Wilson Simonal” de Ricardo Alexandre e o DVD Tributo organizado pelos filhos Simoninha e Max de Castro que reuniu vários nomes da MPB para reinterpretar as canções do pai.
Para uns pais que nem sempre usa sua memória cultural, este momento Wilson Simonal é prelúdio de que algo esta mudando em nosso Brasil, e quanto a Wilson Simonal, certamente sua mamãe passou muito açúcar nele!



Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Revisão Afetiva: André Menezes