sábado, 1 de novembro de 2008

PAULA LIMA SINCERAMENTE.



Consagrada como Diva da canção, Paula Lima recebeu o troféu Raça Negra de melhor cantora no ano de 2006. Ela havia acabado de lançar pela Indie Records o CD Sinceramente, que trouxe com força total, para de fato, ocupar definitivamente o lugar de DIVA da MPB. Linda como sempre e com uma voz perfeita, ela desfila ao longo das doze canções do CD, uma maturidade digna das grandes cantoras negras americanas, é muito bom ouví-la em todas as canções.

As canções são assinadas por Martinália, Ana Carolina, Arlindo Cruz, Seu Jorge, Leci Brandão e João Donato o que dá uma idéia contemporaneidade, ao mesmo tempo em que firma sua posição de intérprete de variados gêneros musicais possibilitando que ela exercite toda sua capacidade de interprete.

Paula Lima que foi backing vocal do grupo Funk como Legusta adquiriu nesta época a qualidade que somente quem cantou na noite consegue, a versatilidade e o transito livre por todos os gêneros musicais. Daí, sua grande capacidade de recriar-se a cada novo lançamento, muito embora ande circulando a cada trabalho por uma gravadora diferente. O que é facilmente explicado pelo retorno imediato que as grandes gravadoras desejam avidamente de seus contratados.

O compositor Seu Jorge aparece neste CD com duas canções, ele é a mais perfeita tradução do que há de melhor no cenário nacional, assim como Arlindo Cruz esta mistura das várias faces da negritude carioca marca o trabalho de Paula Lima, uma paulistana formada em Direito e dona de bela voz.

A melhor forma de compreender este novo trabalho de Paula Lima é ouvir inúmeras vezes cada canção do CD “Sinceramente” e ao ouvir a última canção do CD composta pela grande Leci Brandão podemos compreender enfim porque e para que Paula Lima canta, preste atenção ... Quero saudar / aquele que é da dança de rua /Que é lindo, mas não se insinuaQue sabe o que quer e o que fazQuero saudar / você dessa minha etniaQue samba e também denuncia ....

Grande e bela Paula Lima !!

ROSA SENTADA A BEIRA DO CAMINHO.




Rosa Passos lançou pela Universal Musica seu CD Rosa, em setembro de 2006 onde entre composições suas e clássicos da MPB, que vão de Roberto Carlos a Tom Jobim, desfia sua voz única que nos enlouquece de paixão a cada vez que a ouvimos.

Já foi saudada por muitos músicos internacionais como uma das maiores cantoras do mundo, e não é para menos seu histórico inclui belíssimos trabalhos com Ron Carter, Henri Salvador e Paquito D’ Rivera, entre tantos outros grandes talentos.

Neste álbum ela consegue mais uma vez superar-se em ousadia e beleza, juntou no mesmo álbum um Roberto Carlos melancólico e um Chico Buarque no esplendor de sua produção ao gravar de ambos “sentado à beira do caminho” numa versão que dura mais de sete minutos que você ouve sem perceber e, Olhos nos Olhos, numa interpretação única e definitiva.

Para mim, a canção de Roberto estava pra lá de imortalizada na voz da cantora italiana Ornella Vanoni mas, ao ouvir Rosa Passos e seu registro, fiquei completamente adormecido e fui levado a sentimentos e sensações como nunca antes havia experimentado.

No inicio deste ano (2007) Rosa Passos estará em tournée pelo Brasil a começar por São Paulo. Vamos torcer para que seja este o ponto de partida para a consagração definitiva entre o povo brasileiro, desta cantora que tem honrado e colocado o nome do Brasil dentre os melhores da música mundial.

Impossível mesmo é ficar indiferente diante da audição de sua versão para a canção “Molambo” de Augusto Mesquita e Jaime Florence, algo único se cria dentro de você ao término da canção, e sabe o que é?? A vontade de abraçar e deitar a cabeça no colo desta cantora, deixando-a que ela nos embale até o sono chegar.

RITA RIBEIRO E A FORÇA DO CANTO AFRO-RELIGIOSO.



Há muitos anos a cantora Rita Ribeiro tentava viabilizar seu Projeto chamado Tecnomacumba, apresentando há muito tempo por todo o Brasil com show que traz o repertório do CD. Ela encontrou muitas dificuldades para sua viabilização, incrível mesmo foi como chegou a gravadora Biscoito Fino.

Pronta para uma produção totalmente independente iniciou as vendas pela Internet de seu CD, quando já mais de 500 encomendas haviam sido feitas a gravadora Biscoito Fino procurou a cantora propondo co-produzir e distribuir o CD, o que deu um impulso decisivo ao projeto, que na verdade é uma aula publica sobre a religiosidade de nosso povo.

Tecnomacumba é aberto por uma adaptação da própria Rita Ribeiro chamada Saudação/Abertura, onde ela parece evocar todas as entidades da natureza para acompanhá-la durante todo seu cantar.

Ela buscou em todos os cantos da MPB canções que traduzissem seu desejo de flertar bem de perto com a religiosidade que os africanos trouxeram para enriquecer nossa cultura. Temos Jorge Benjor, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Nei Lopes e, é claro, o grande Dorival Caymmi.

Mas nada se compara ao prazer inenarrável de ouvi-la cantar um clássico do cancioneiro pop anos 70, que foi popularizado na voz de Ronnie Von “Cavaleiro de Aruanda” que diz assim:

... quem é o cavaleiro
Que vem lá de Aruanda
É Oxóssi em seu cavalo
Com seu chapéu de banda
Ele é o filho do verde
Ele é o filho da mata ...

é necessário ouvir e deixar-se tomar pela energia que o som desta música nos traz , a voz de Rita Ribeiro anda bem protegida. Que continue assim.

ENTRE O AMOR E O MAR ESTÁ JUSSARA SILVEIRA.



A grande cantora baiana Jussara Silveira produziu esse belíssimo CD que homenageia o Mar. Patrocinado pela Petrobras este trabalho da cantora é envolvente e fascinante assim como é o mar.

Jussara Silveira buscou da modernidade pop à consagradas canções o que transformou na síntese para sua compreensão sobre o que é ou pode ser o mar na vida de todos os humanos desta nossa terra, que é banhada de costa a costa, pelo oceano Atlântico.

Sua voz cristalina e doce contrasta com o salgado do mar e chega a nossos ouvidos numa transparência só vista em praias ainda desertas deste imenso pais chamado Brasil.

Em Morena do Mar, de Dorivel Caymmi, ela supera-se e resvala na genialidade das grandes damas das canções populares do mundo, imortalizando-o que há muito já o estava, é impossível não se emocionar ao ouví-la transpor para o canto os versos de Caymmi :

... à morena do mar
Oi eu, ô morena do mar
Ô morena do mar
Sou eu que acabei de chegar
Ô morena do mar ...

Este lamento em forma de canção é comovente, só mesmo os grandes amantes conseguirão perceber este choro e clamoroso pelo amor da parceira numa da inúmeras chegadas que o pescador faz ao longo da vida, sedento de água doce, de docilidade que só o amor pode trazer.

Em alguns momentos temos a sensação de estar ouvindo outras cantoras que não a própria Jussara Silveira, isso porque sua qualidade vocal é muito parecida com as das damas de nossa canção, mas nada que a desmereça pelo contrário, instantaneamente somos devolvidos à presença forte e única desta, que sem dúvida, é uma das maiores cantoras que a Bahia já entregou ao Brasil

UMA NOITE NO CHICO’S BAR.



Nas décadas de 70 e 80 o Chiko´s Bar era uma casa noturna de referência não só no Rio de Janeiro, como no Brasil. Referência não só em termos de música brasileira, como também passagem obrigatória de todos os grandes nomes do jazz que passavam pelo país. Pensando nisso, o produtor musical Carlos de Andrade, o Carlão, teve a idéia de transpor para um disco as apresentações memoráveis que aconteciam por lá, intitulado Uma Noite no Chiko´s Bar, que a Biscoito Fino relança 25 anos depois da edição original:
- “Eu era técnico da Som Livre na época. Tinha acabado de voltar dos Estados
Unidos, e queria fazer um disco com o Luiz Eça, que eu considero talvez o maior pianista de jazz da história do Brasil, e que tocava no Chiko´s Bar. Levei o projeto ao João Araújo, ele se interessou, e disse que lançaria. Pedi dinheiro emprestado para meu pai, e comprei um gravador. Esse álbum foi meu primeiro trabalho como produtor musical”- conta Carlão.
Os artistas que integram o disco ajudaram, de alguma forma, a construir a
história do Chiko´s Bar. Uma noite... é um projeto agregador, pois acabou promovendo, por exemplo, o reencontro de Johnny Alf e Leny Andrade, além do retorno de Nana Caymmi a casa. Com o elenco reunido, o disco foi gravado em 1980 por Carlão e Nestor Vittiriti.
A seleção do repertório priorizou as canções mais pedidas pelo público na
época. O disco começa com a valsa Eu Te Amo (Chico Buarque e Tom Jobim) na voz de Leny Andrade, que canta ainda um pout-pourri em homenagem à João Gilberto - De Conversa em Conversa (Lúcio Alves/ Haroldo Barbosa), Tintim por Tintim (Haroldo Barbosa/Geraldo Jacques), Eu Quero um Samba (Haroldo Barbosa/ Janet de Almeida) e Nanã (Moacir Santos). Nana Caymmi desfia o bolero Dejame Ir (Chico Novarro/ Mike Ribas), a indefectível Eu Sei que Vou Te Amar (Tom Jobom/ Vinicius de Moraes) e Rua Deserta (Dorival Caymmi/ Carlos Guinle). Johnny Alf comparece com suas composições, Vem e Diza. Completam o set list, as instrumentais Chiko´s Blues e Dolphin, de Luiz Eça, e ainda Tereza My Love (Tom Jobim), com Edson Frederico. Participam do disco também João Alves, Ricardo do Canto e Luiz Alves.(extraído do site da Gravadora Biscoito fino por: Paulo Gonçalo dos Santos -paulogoncalo@uol.com.br)

OS OUTROS TONS E A OUTRA FÁTIMA.




Este primoroso CD lançado após muito tempo de ausência no mercado fonográfico pela cantora e compositora Fátima Guedes, um dos ícones de nossa canção, que surgiu no final da década de 70 e teve sua explosão na década de 80, sendo inclusive gravada por Elis Regina de maneira ímpar está novamente com o melhor trabalho do ano de 2006.

Fátima Guedes acertou em cheio ao selecionar dentre a obra do grande Tom Jobim canções que passaram quase que despercebidas pela grande massa que cultuou a bossa nova e que ela resgata de forma quase didática.

A cantora toma a vez da compositora neste belo CD e mostra o quanto ela está primorosa e com uma voz que a coloca definitivamente entre as grandes intérpretes de nossa MPB.

Ela um dia compôs para uma bela cantora de nossa MPB essa canção:
Eu sou uma voz, eu sou uma figura,
sou o meu sonho
de o ver realizado.
hoje eu descobri o mais incrível,
sou quase inacessível,
estou tão longe desta estrela ...
pois bem, Fátima Guedes neste CD se transforma na tradução mais que perfeita da canção escrita por ela nos anos 80.
O belo CD tem como primeira canção uma compilação do maestro Tom Jobim e o maior poeta de nossa língua Vinicius de Moraes chamada “Na hora do Adeus”, gravada pela primeira vez em 1960 e por aí vai. Cada pérola é lapidada com interpretações inesquecíveis e arranjos belíssimos.
O CD se torna ainda mais raro porque traz impresso em seu livreto a história de cada canção de maneira sucinta e clara e nos remete a um passeio na história da obra deste compositor que tanta falta faz entre nós. Você pode descobrir quem primeiro gravou a canção, e qual o contexto no qual ela foi escrita, este cuidado é raríssimo em nossos CDs.
Fátima Guedes já começou a divulgar o CD em shows que devem percorrer por muito tempo todo nosso país. Vale a pena não só adquirir o CD que é da Rob Digital, como procurar descobrir onde Fátima anda se apresentando para conferir ao vivo essas interpretações únicas que ela dá ao saudoso maestro soberano tom Jobim

NEGRA LI E A TENTATIVA DE SER LIVRE .



... um dia eu vou estar á toa
e você vai estar na minha
eu sei que você sabe
que eu sei que você sabe
que é difícil de dizer ...

Quando há uns dois anos atrás atraído por uma participação de Caetano Veloso no CD de Helião e Negra Li entrei em contato com o canto desta cantora, chamada por batismo de Liliane, fiquei impressionado ao ouvir suas interpretações no CD, pensava caramba tá ai uma grande cantora, aliás mais uma grande cantora neste cenário nacional tão rico em vozes femininas.

Agora com seu primeiro grande CD solo Negra Li é capaz de dar uma palhinha do que será capaz de fazer no universo musical brasileiro se for bem conduzida e, principalmente, se não se deixar conduzir por qualquer encantamento passageiro.

Sem dúvidas estamos contemplando o nascimento de uma grande dama da canção popular no Brasil, ela tem atrevimento suficiente para mesclar a ultra cult Marisa Monte ao hip hop que gosta de fazer e transformá-lo assim num hit do verão brasileiro como há muito não se ouvia e via inclusive na telinha de uma das maiores redes nacionais de TV.

Novamente Negra Li trás Caetano Veloso para seu lado numa participação acertada neste seu CD – Livre – lançado no final de 2006 pela gravadora Universal Music. Também neste mesmo final de ano todo o Brasil pode vê-la e apreciá-la como atriz na badalada minissérie chamada Antonia que já tem acertada sua continuação agora em 2007.
Negra Li também compõem e grava neste CD algumas de suas composições, observe nesta letra o despontar de uma poetiza de mão cheia: ... é tão triste o ódio / eu assisto e choro / é preciso logo compaixão / Sou Negra Li, estou aqui, sim, e não aturo / cadê a compaixão ...

É a linguagem de nossas favelas e morro que ganham força na voz dessa bela jovem afro-descendente cheia de garra pra construir rasgando à unha seu espaço em nosso universo musical

Fora a participação de Caetano Veloso numa canção escrita por ele mesmo, ainda temos o compositor Nando Reis com a canção que dá titulo ao CD Negra Livre e que vale uma conferida com calma ... está em todo som, na boca, nas palavras / está em outro tom, nas sílabas caladas / A minha linda voz ...

Linda e imperdível voz, salve Negra Li !

A VOZ E O PIANO EM ALAÍDE COSTA



Quando em 1972 Milton Nascimento convidou-a para um dueto em seu maravilhoso Clube da Equina e, em seguida produziu um Compacto duplo só de Alaíde Costa, podíamos ali perceber um tributo a esta que foi a primeira negra a invadir o fechado universo dos compositores da MPB.

Parceira de Vinicius de Moraes e Tom Jobim Alaíde Costa é um destes casos que ao longo dos anos só fez melhorar e aprimorar seu canto, sua sofisticação é algo embriagador.

Final de 2006 ela junta-se novamente ao pianista João Carlos Assis Brasil para lançar seu Piano e Voz pela gravadora luamusc. O disco sem duvida nenhuma é um dos melhores lançamentos dos últimos tempos,a cada canção é possível sentirmos a respiração de Alaíde Costa que vai aos pouco nos tomando até que no embarca numa viagem pela musicalidade de seu peculiar universo.

O CD é aberto pela bela composição do grande maestro Radmés Gnatalli Noturno, em belíssimo arranjo que torna-se magnânimo fazendo com que um arrepio tome todo nosso corpo durante sua audição.

Gravado na primavera de 2006 com produção de José Milton, o disco busca em pérolas de nosso cancioneiro a inspiração para esta cantora, que é referência na MPB, pelo seu canto carregado de uma técnica impecável e por suas leituras raras e pessoais das canções.

Mas é ao ouví-la na canção de Joyce e Ana Terra, Essa Mulher, que sentimos a força e o quão esta cantora é especial e deve ser reverenciada constantemente por todos os ouvintes de boa música em nosso país, certamente é impensável não aplaudi-la de pé ao ouví-la mastigar as palavras da canção que nos diz assim :

... ser cantora, ser artista.
isso tudo é muito bom
e chora tanto de prazer e de agonia
de algum dia, qualquer dia
entender de ser feliz ...
mesmo que nos percebamos ao final da interpretação apenas a frente de nossa aparelhagem de som e não de um palco, onde esta estrela que se chama Alaíde Costa deve permanecer sempre.

CARTOLA E A VOZ DE LENY ANDRADE .





Em novembro de 2006 pela primeira vez assisti a um show de Leny Andrade em um novo espaço cultural na Cidade de São Paulo e acompanhada ao piano, por Gilson Peranzetta.

O espetáculo foi baseado em dois grandes discos da cantora os: Leny interpreta Cartola e Luz Negra - Nelson Cavaquinho por Leny, ambos da gravadora Velas e ainda encontrados com certa facilidade.

Leny Andrade é daquelas preciosidades que deve nos orgulhar sempre e muito, canta com perfeição e nunca se rendeu aos caprichos da indústria fonográfica, tem trânsito livre em todo o meio jazzistico americanos e é respeitada por todos os grandes cantores e compositores de nosso cancioneiro.

Quando ela se pões a interpretar esses dois mestres, é impossível que não nos emocionemos, é fantástica, cada interpretação nos remete aos universos únicos.

Agora nada é mais emocionante do que ouví-la contar a história do surgimento de cada uma das canções, torna-se impossível não termos a vontade de ouvir inúmeras vezes cada interpretação. Esses compositores negros e pobres dos anos dourados do cancioneiro popular viveram muito tempo de vossas vidas à margem.

Ao ouvi-la interpretar a canção do grande Cartola – O mundo é um moinho, acompanhada de um histórico sobre a criação da mesma, percebemos o quão atual este poeta maior é.

A canção narra uma conversa entre pai e filha adolescente que esta prestes a bater asas por causa de um primeiro e enlouquecedor amor, a construção desta conversa remete para o grande problema que todos os pais encontram quando se deparam com estas situações em suas casas, sejam elas de classe média, sejam elas na população mais desprovida de condições.

Vale a pena apreciar a bela letra desta canção, mas com a condição de ouvi-la a seguir e de preferência na voz de Leny Andrade.

O mundo é um moinho
Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora da partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar.
Presta atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida, em cada esquina cai um pouco a tua vida, em pouco tempo não serás mais o que és.
Ouça-me bem amor, preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões à pó.
Presta atenção querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estás a beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés.
Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora de partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar.
Presta atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida, em cada esquina cai um pouco a tua vida, e em pouco tempo não serás mais o que és.
Ouça me bem amor, presta atenção o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó.
Presta atenção querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estás a beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

“DEIXA” Renata Arruda invadir sua alma!


JÁ FAZ MAIS DE ANO QUE NÃO TE VEJO
FAZ MUITO TEMPO QUE DERRAMEI
TODA A ÁGUA QUE MEUS OLHOS GUARDAVAM POR TI ...

Gosto de música há muitos anos, e costumo contar para os amigos que este gosto se fez vivo em mim desde que minha avó vinda do sertão de Pernambuco me ninou com cantos que até hoje trago no coração.

A primeira vez que vi Renata Arruda estremeci pela força que saia da boca daquela jovem tão bonita que a telinha da TV me trazia, lembro-me que enlouqueci atrás do primeiro trabalho dela, consegui e o tenho até hoje aqui entre os meus mais queridos CDs.


Este trabalho de Renata Arruda chamado “Deixa”, tocou-me a alma profundamente, presente de uma querida amiga, chegou a mãos e aos ouvidos trazendo lembranças de um tempo onde a felicidade instalada estava em mim.

EU ME CHEGUEI MEIO TONTAREPLETA DE DOCES PRA TE OFERECER ...

Falo de um tempo onde pela periferia de São Paulo era possível correr junto aos amigos respirando um ar que era mistura de todas as regiões do pais, a voz de Renata Arruda cada vez mais bela e límpida, nos transporta por entre flashes que a memória teima não deixar escapulir.


Cada canção do CD “Deixa” inspira e dá a vontade de correr loucamente atrás da felicidade que hoje parece tão impossível de alcançar. O CD fala de amor tão docemente e tão brasileiramente que se torna impossível em algumas canções não deixar as lagrimas rolarem face afora.

A canção que abre o CD: Palavra Escrita toca por deixar vuneravel a verve da criadora de canções, sim porque Renata Arruda é compositora de mão cheia e o CD trás 13 canções dela em parceria com vários outros compositores, para citar apenas alguns estão lá: Chico César, Zélia Duncan e uma Lucia Veríssimo (atriz) cheia de inspiração.


Impossível não deixar este trabalho de Renata Arruda tomar conta da alma da gente e acreditar em cada frase tão bem dita e cantada por ela, segurando-se assim com toda a força num fiozinho lilás de esperança que nos faz acreditar que AMAR é possível.

Como diz Renata Arruda:


PALAVRA ESCRITA QUANDO NASCE DÓI DEMAIS.

Corram atrás deste trabalho de Renata Arruda, afinal não são todos que tem o privilégio de ter amigos que nos presenteiem com trabalho tão maravilhoso.

sábado, 11 de outubro de 2008

OS SACRAMENTOS DE MARCOS.

A primeira vez que ouvi este cantor foiháuns três ou quatro anos atrás quando adquirri o CD Memorável samba da gravadora biscoito fino no relese encontrado no site da própria gravadora vimos assim a descrição deste trabalhoque me conquistou e me fez um apaixonado pela voz deste cantor carioca: ... Intérprete apurado do samba carioca de variadas épocas e estilos, o carioca Marcos Sacramento reafirma sua preferência - com habilidade - pelo gênero em seu novo disco, Memorável samba, pela Biscoito Fino. Trata-se do segundo álbum de Sacramento pela gravadora, por onde lançou em 2002 Saravá Baden Powell, em dupla com a cantora Clara Sandroni. O título do novo disco dá a idéia precisa do conceito proposto por Sacramento. São 13 sambas, todos de fato memoráveis, criados entre as décadas de 30 e 50. A expressão “Memorável samba” foi tirada de Meu Romance, composto por J. Cascata, em 1938, em saudação à Mangueira, sua jaqueira e suas pastoras: “Na tarde daquele memorável samba / eu me lembro, tu estavas de sandália / com teu vestido de malha / no meio daqueles bambas”. Sacramento é acompanhado por Luis Flavio Alcofra (violão) e Jaime Vignoli (cavaquinho), junto com os percussionistas João Hermeto, Marcelinho Moreira e Netinho...
Agora em final de 2006 Marcos Sacramento lança mais um CD solo pela mesma gravadora intitulado apenas Sacramentos, ao ouvi-lo é impossível não permitir que nosso imaginário leve-nos ao Rio de Janeiro dos anos 30 e 40, que venha a memória Araci de Almeida e Noel Rosa, que não mergulhemos nas histórias ingenuamente marginais de um Madame Satã que dominava a Lapa e assustava alguns.
O canto de Marcos Sacramento esta cada vez melhor, a sonoridade de seu CD é capaz de mobilizar um publico maior que o de muitos astros e estrelas da nata de nossa MPB, ele é sem duvida o cantor mais atual e o que melhor reflete o que nossa cultura popular tem de melhor, seu disco é uma verdadeira aula de história de nossa música ele canta neste “Sacramentos” canções de Baden Powell, Custódio Mesquita. Herivelto Martins, Davi Nasser, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Fátima Guedes e ainda sobre espaço para uma composição própria intitulada: Falo de Amor que diz mais ou menos assim:
Falo de amor por onde ando
Falo de estalo, sem perceber
Falo de manhã, falo a tarde, falo ao anoitecer
No sol, na chuva, se a terra estremecer
Quando a política me empobrece
E a estatística me empobrece
Falo, falo, falo, falo de amor ...
Pois é isto é Marcos Sacramento o cantor !

AS ÁGUAS DE MARIA BETHÂNIA.

A Rainha acaba de lançar de uma só vez dois CDs vendidos separadamente sendo um pelo selo Quitanda que é seu e outro pela gravadora Biscoito Fino, nestes dois trabalho Bethânia nos conta de forma erudita sua compreensão sobre as águas salgadas e as águas doces que banham sua vida desde sempre. Obviamente não aprece nada difícil recolher canções de fale de nossos rios e de nossos mares afinal todo o Brasil é repleto de veios d’águas e temos o Atlântico a nos banhar por toda nossa extensão territorial, afinal o Brasil é um pais de águas doce e salgada.
Mas fazer essa escolha de maneira acertada e vigorosa só mesmo Maria Bethânia, que com toda sua dignidade e sabedoria monta um painel maravilhoso que mergulha desde Portugal e emerge no recôncavo baiano onde nasceu e criou-se.
O disco nos remete ao canto triste português bem como nos leva ao universo alegre e brejeiro de Dorival Caymmi sem cair na vulgaridade nem mesmo na obviedade. NO CD das águas doce Bethânia nos apresenta a poetiza portuguesa Sophia de Mello Breyner que tem pinçado pela Rainha de seus escritos trechos que enchem a alma de todo ouvinte que dizem mais ou menos assim: ... as suas asas empresta A tempestade Quando os leões do mar rugem nas grutasS obre os abismos passa e vai em frente ... quando declama este poema a Rainha emenda a canção de Paulo César Pinheiro intitulada “A dona do raio e do vento” nada mais apropriadamente sábio. O show deste repertorio certamente deve resultar em um DVD que deve repetir a singeleza de Brasileirinho, pois o recolhimento de canções de domínio publico, as homenagens aos santos católicos e às entidades da natureza são presentes e nos dão verdadeira aula de cultura brasileira proporcionando-nos momentos de rara beleza musical. A capa do CD que fala das águas salgada intitulado “Pirata” é de uma beleza arrebatadora ela reproduz um bordado primitivo que toca a alma de todo apreciador de obras de arte e todo o tratamento gráfico deste CD é repleto de singelezas encantadoras o repertorio é todo montado com as sonoridades que calam profundo n’alma e aqui devemos ressaltar a importância da participação de seu maestro Jaime Além e do percursionista Nana Vasconcelos que conseguem criar climas distintos para as águas que sempre se encontram principalmente na voz da Abelha Rainha.
Salve Bethânia!

A ESTRELA LUCINHA LINS


Para falar do cd “Canção Brasileira” onde Lucinha Lins interpreta Sueli Costa lançado em 2002 pela gravadora Biscoito Fino é necessário que falemos um pouco da história desta personalidade das artes no Brasil. Sim, porque Lucinha já foi back vocal, bailarina, atriz, apresentadora de programas infantis e cantora de mão e voz cheia.

Para contar a sua história deixemos que a própria Lucinha Lins fale: ... Lucinha Lins costuma dizer que, na infância, queria ser bailarina. Depois, médica.E, mais tarde, queria mesmo era ser cantora. Na verdade Lucinha é um pouco disso tudo: nunca foi bailarina, mas dançou muito bem em vários espetáculos; não é doutora, mas pode ser considerada a médica da família; e a cantora ficou em segundo plano quando ela se tornou atriz.
Lúcia Maria Werner Vianna nasceu no Rio de Janeiro em 9 de março de 1953. Cresceu no bairro da Tijuca e, na adolescência, com um grupo de amigos apaixonados por música, formou o MAU (Movimento Artístico Universitário) – onde começou a cantar e conheceu o músico e compositor Ivan Lins.
No começo dos anos 70, já casada com Ivan Lins, Lucinha participou dos shows
do cantor como vocalista e percussionista. Paralelamente cantou em festivais de música brasileira e começou a gravar jingles. Vieram então os comerciais de televisão, que acabaram por revelar o belo rosto escondido atrás daquela bela voz.
Mas foi na década de 80 que Lucinha Lins se tornou conhecida nacionalmente ao vencer o Festival MPB Shell 82 com a música “Purpurina” e receber uma vaia gigantesca – a música favorita do público era “Planeta Água”, de Guilherme Arantes. (trecho da biografia extraído do site oficial http://www.lucinhalins.com.br/.

Canção brasileira nos trás o universo musical da maior compositora viva de nosso país: Sueli Costa, abre o cd “Canção Brasileira” ... quantas vezes vagueio no quarto, ou nos abres tão só, mas eu nunca fui triste, os corredores da vida eu sei de cor ..., a compositora é a única dentre tantas que consegue transpor para a canção o universo feminino, suas dores, alegrias, sonhos e desejos, entres os grandes compositores de nossa canção popular, só Chico Buarque consegue fazê-lo sem ser piegas e sem ser mulher.

Lucinha Lins no CD que para nossa sorte ainda está em catalogo na gravadora Biscoito Fino, e indispensável para qualquer colecionador de MPB, segue cantando “Vinte anos Blues’ que retrata toda a efervescência da juventude obrigada a se calar nos anos 70 e, que tinha na MPB sua grande saída, e assim segue segura por “dentro de mim mora um anjo” , “coração ateu”, “medo de amar nº 2” e fecha o disco num atrevimento só permitido às grandes interpretes de nossa canção, regrava a canção “Alma” canção que colocou definitivamente a cantora Simone entre as maiores interpretes da MPB no início dos anos 80 e tornou-se sua marca registrada. Lucinha Lins regrava mostrando-nos que um país que tem compositoras como Sueli Costa e interpretes como Simone, Bethânia e Nana Caymmi não precisa de mais nada, apenas a constatação de que as nossas ... almas tem um corpo moreno, nem sempre sereno, nem sempre emoção, feliz desta alma que vive comigo e vai onde eu sigo o meu coração ...

Não poderia deixar de lembrar as participação de Lucinha Lins no cinema e quem foi criança, adolescente, jovem, ou velho nos anos 80 não esquecerá jamais sua atuação no filme “Os saltimbancos trapalhões”, linda, com sorriso magnetizante, Lucinha Lins além de ser a mocinha da história ainda cantava de maneira cristalina as canções de Chico Buarque para nosso deleite, agora quanto às vaias do Festival de MPB da Rede Globo, oras deixemos pra lá e ouçamos o CD “Canção Brasileira”. Vale a pena.

PRA FALAR DE AMOR... E DE... EDUARDO CONDE.


Poucos devem se lembrar dele, mas sua voz registrada em pouquíssimos álbuns (CD), é tal forma marcante, que diria que a MPB deve ainda um grande Tributo a este artista brasileiro chamado Eduardo Conde.

Eduardo Conde esteve entre nós até seus 56 anos de idade e 37 de carreira, iniciada na segunda metade dos anos 60, com os festivais de música popular brasileira. Sua figura esguia, de longos cabelos lisos e rosto marcante, o levou às passarelas, mas ele preferiu investir na carreira de ator, em que destacou-se, nos anos 70, como protagonista do musical Jesus Cristo Superstar, versão pop da história bíblica.

Apadrinhado pela cantora Beth Carvalho que lhe ensinou tudo sobre música, gravou em 1969 seu primeiro LP chamado “Minha Chegada”, fora de catalogo obviamente. Retoma a carreira de cantor somente em 1995 com a gravação do CD “Pra falar de amor” e, em 1997, grava o belíssimo álbum tributo a obra de Suely Costa chamado “Intimo”.

Os CDs ainda podem ser encontrados numa busca mais detalhada na internet e vale a pena fazer parte de toda CDeteca de amantes da MPB mais pura e visceral. Com sua voz grave e com um charme e bossa únicos que misturam a firmeza de Orlando Silva e a delicadeza de Djavan, as músicas de Sueli Costa na voz de Eduardo soam como bálsamos pra nossas almas.

Grande sucesso na voz da cantora Simone a canção “ALMA” ganha um brilho especial gravada por Eduardo Conde no CD Intimo, os versos de Sueli Costa em parceria com Abel Silva são reciclados e enternecem o coração ... há almas que tem a mais louca alegrias , que é quase agonia, quase profissão ...

As alegrias, a voz firme, enternecem ainda mais nossos ouvidos ao ouvirmos ... quero cantar pra você / segunda-feira de manhã / pelo meu rádio de pilha tão docemente / e ajudar a escalar esse dia mais facilmente ... imortalizada na voz de Elis Regina e reconstruída magnificamente na voz de Eduardo Conde a canção “O PRIMEIRO JORNAL” também parceria de Sueli Costa com Abel Silva.

Ainda é possível sentir toda a singeleza do amor entre duas mulheres cantada na voz masculina, quando Eduardo Conde nos presenteia com a canção “A ALEGRIA E A DOR”, também da parceria entre Sueli Costa e Abel Silva, traduzindo e possibilitando que o som se transforme em imagens em nosso imaginário. Salve o amor, salve o cantor, salve a MPB que teve entre seus cantores Eduardo Conde ... quando a alegria se levanta / a dor espera / e o vento da sorte / bate a porta e abre a janela ...

Dedico esta matéria a um amigo distante, Carlos Elydio que me vem a memória sempre que ouço Eduardo Conde, saudades ...

Céu e Mar são achados no novo CD de CEUMAR e DANTE OZZETTI



... Quem estiver
Atrás de um grande amor
Achou !


Ao ouvir o novo CD de Ceumar e Dante Ozzetti é impossível não achar que se deparou com o melhor disco dos últimos tempos da nossa contemporânea MPB que vive cheia de grandes nomes e pouca criatividade.

Num disco simples e de um colorido ímpar que podemos apreciar logo pela capa intitulado simplesmente ACHOU ! é de um lirismo e de uma pureza que evoca os cantinhos mais esquecidos de nosso belo país cheio de uma sonoridade que um dia Mário de Andrade quis tornar pública.

Ceumar mineira de Itanhadu mudou-se para São Paulo no ano de 1995 e, desde então, vem abrindo espaço no meio musical desta selva de pedras que adora a musicalidade dos cantos do Brasil com dois ótimos CDs facilmente acháveis “Dindinha” e “Sempre Viva” emociona as platéias que tem o privilégio de ouví-la sempre.

Dante Ozzetti arranjador e produtor musical tem uma obra premiada, presença marcante nos CDS da irmã Na Ozzetti, se mostra um dos compositores que podemos considerar herdeiros daqueles que fizeram a MPB dos anos setenta mundialmente respeitados.

O CD só tem canções de Dante Ozzetti com diversos parceiros que vão de Alzira Espindola a Zélia Duncan, passando por Zeca Baleiro, Kleber Albuquerque, Chico César e o professor universitário de Luiz Tatit, autor de praticamente mais da metade do CD, a parceria se mostra afinada.

Algumas canções nascem deliciosamente antológicas como é o caso de “A TARDINHA” que diz mais ou menos assim “...o meu barquinho vai, mas a tardinha não cai não, que aflição, não vou suportar, tão só, tão só no mar ...”, essa salutar brincadeira permite arejar uma MPB que corre o risco de um dia vir a mofar.

A Serra da Mantiqueira abençoou sua filha com uma voz que traduz os Brasis escondidos no Brasil que a gente só vê pela mídia de maneira desfocada e desarranjada. Ouví-la cantar o fraseado rasgado da canção que diz “...quero viver de amor, de amor me colorir, abrir as asas pra você ...” é deixar a alma encher-se de céus e mares provavelmente nunca dantes navegados.

Portanto, não perca a chance de achar “ACHOU”, e colocá-lo em seu aparelho de som rapidamente.

QUASE 35 ANOS DEPOIS SIMONE CONTINUA TÃO RARA!



Energia! É esta palavra que me vem à cabeça cada vez que penso, ouço, sinto o canto de Simone Bittencourt de Oliveira, ou simplesmente Simone, a Cigarra que já por quase 33 anos tem enchido nossas vidas de sons.

Impressiona-me ouvir sempre de gente amiga que o canto de Simone transmite paz e tranqüilidade, fico a pensar: "... Que energia boa, pura..."

Cursava História no inicio dos anos 80 quando o país vivia a efervescência da transição para uma sistema político democrático, aliás democracia que ainda buscamos feito adolescentes sonhadores.

Quando ouvi pela primeira vez a voz firme e forte de Simone, estava em meio à ebulição do movimento estudantil, a voz que falava de amor da mesma forma que reivindicava junto conosco um Brasil melhor.

Era época de "Canta Brasil", megashow promovido pela Rede Globo e, que trazia de volta à emissora, o grande Chico Buarque, no Morumbi, maior estádio de futebol de São Paulo. Fui ao delírio junto a milhares de pessoas que soltaram a voz com Simone, vingando-se assim, da derrota da canção de Geraldo Vandré anos atrás num dos festivais da canção. Era na verdade, um grito engasgado que Simone nos ajudou a dar, éramos uma única voz a gritar: "...Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não...".

Que emoção! Hoje, ainda ao rever as cenas registradas em vídeo pela TV, a emoção faz rolar lágrimas saudosas no rosto já marcado pelos desencantos, pelas paixões, pelas decepções, pelas vitórias e derrotas que a vida nos deixa.

Daí em diante, a energia de Simone não deixou de me acompanhar pela vida. A cada canção, cada LP, cada foto eram momentos de alegria, sentia que cada disco era feito para o momento que vivia, mesmo em momentos que discordava de posturas de Simone, sentia que sua energia continuava a vibrar de modo positivo em minha vida.

É realmente incrível, mas para mim, é como se fossemos velhos amigos. Amigos queridos que procuramos em momentos de extrema alegria e de torturantes agonias, é incrível também que nestes anos todos, não fui a todos os shows de Simone e, somente em 2000, vim a conhecê-la pessoalmente. Admito que foi um encontro rápido, mas muito bom.

Assisti a alguns shows, a outros, por pura falta de coragem, não fui. Ver Simone no palco me deixa tão atordoado, que não resisto à quantidade de energia que ela emana. Portanto, vou raramente a seus shows, afinal, sou fraco, sou mortal, sou simples e diante de tamanha estrela, desapareço como os fiéis desaparecem diante de seus deuses.

Já os cds, lps, vídeos e reportagens têm me enchido a alma de alegria, cada detalhe, cada data, cada história me chega como chegam as noticias boas das pessoas que amamos e queremos bem!

Há dez anos reencontrei um amor que havia perdido naquele início dos anos 80, e juntos, estamos construindo uma história baseada no respeito, na compreensão e na paixão. É desnecessário dizer que Simone tem nos trazido momentos de extrema felicidade, e juntos, vamos construindo este caminho difícil de uma relação a dois, mas, que, com o canto de Simone, tem sido mais ameno, e a sete chegou em casa o Gustavo, criança linda que já cantarola e lê as canções da MPB.

A cada foto, a cada vídeo que recebemos, ou a cada Cd que adquirimos nossas almas são banhadas pelas águas mansas do mesmo mar que banha a residência de Simone, no Rio de Janeiro.

O tratamento que há alguns anos a critica brasileira vem dando a Simone é algo que me deixa perplexo. Minha formação de historiador não permite que concorde com absurdos que já foram escritos a respeito de seu trabalho, é necessário lembrarmos que, quem lançou Simone, primeiro nos Estados Unidos e Europa, foi Herminio Bello de Carvalho, e me pergunto, será que os críticos sabem quem é Herminio Bello de Carvalho? Um mestre, ou melhor um Doutor, em MPB, que busca incansavelmente manter viva na memória nacional nomes como o de Clementina de Jesus, Elizete Cardoso e tantos outros. Herminio lançou Simone para o mundo quando já havia lançado o príncipe Paulinho da Viola para o Brasil, ele jamais erraria, como não errou, presenteando-nos com a energia pura e cristalina de Simone.

O canto da Cigarra é o canto de nosso povo, um povo apaixonado, sofredor, mas festivo, cheio de vida e energia. Somos um país jovem, temos pouco tempo de história, mas com certeza, uma parte dela ficará registrada para sempre através da voz cheia de energia de Simone Bittencourt de Oliveira.

Por isso tudo indico a todos leitores o CD e DVD – Simone ao vivo –2005 da gravadora EMI e sugiro, que iniciem a audição ou assistam primeiro as imagens da canção: “A Idade do Céu” (Drexler – Moska) um duo com Zélia Duncan, que diz mais ou menos assim: ... não somos mais / que uma gota de luz / uma estrela que cai / uma fagulha tão só / na idade do céu ... só por esta audição/visão já vale a pena estar vivo e ser brasileiro.

Dedico este artigo a Marilia Aguiar, Renato Fragoso, Carina Simonini , Vania Rocha, Gilson Botari, Catarina Santos e a Chan amigos e fãs de Simone, que iluminam sempre minha caminhada. Abraços fraternos e até a próxima!

domingo, 21 de setembro de 2008

O COMPASSO DE ANGELA RO RO.



... É o que pulsa o meuSangue quenteÉ o qe faz meu animalSer genteÉ o meu compasso maisCivilizado e controlado ...

Ângela Ro Ro é para ser ouvida na veia, e como ela fazia falta com suas composições fortes e densas que tocam nossa feridas com uma precisão insuportável, viver sem ouvir Ângela é praticamente impossível. Ela esta de volta com um CD magnífico chamado Compasso lançado em outubro de 2006 pela Gravadora Indie Records e também com um DVD que rememora seus grandes sucessos e tem a participação dos grandes Luiz Melodia e Alcione. Mas aqui quero falar deste CD repleto de canções inéditas de Ângela Ro Ro e vários parceiros alguns antigos outros mais novos, e muitas com seu eteno patner Ricardo Mac Cord que acompanha Ângela por show há muitos anos. Com um visual totalmente repaginado, perdeu 50 kilos e está emanando uma energia como há muitos não víamos nela, continua compondo como intensidade e marcando sua presença no cenário nacional que há muito tempo já havia aberto espaço para essa cantora/compositora tão agressivamente incompreendida. Ao longo dos anos Ângela Ro Ro foi o avesso do avesso, a mídia só a usava para mostrar Escândalos e mais escândalos deixando de lado o que há de melhor em sua existência sua voz rouca e sua capacidade infinda de produzir canções antológicas. Desde que foi convidada a apresentar um programa chamado “Escândalo” num canal a cabo brasileiro ela foi se reaproximando do meio artístico e estabelecendo novamente uma relação confiável com cantores (as), compositores (as) alguns um tanto que ressabiados pelas piadas e cutucadas que não raramente ela disparava contra todos. Alem do programa já ter se tornado um cult entre os amantes da MPB também possibilitou a Ro Ro voltar ao mercado fonográfico, infelizmente o programa já não existe mais, mas o CD e DVD de Ângela Ro Ro estão ai firmes e pra lá de fortes. Faz-se necessário acabar estes escritos com mais da nova safra de composições de Ângela Ro Ro e bendizer os mais belos olhos da MPB. ... São nossos os nossos enganosOs danos que danam em nós ...Os erros que erramos unidosPagamos com a vida a sós ... agora é seguir os compassos de Ângela.

MALU MULHER – A BELA TRILHA FEMININA.


Final dos anos 70, mais precisamente 1979, estreava na TV Globo a série Malu Mulher com a grande estrela da TV Regina Duarte, a série falava da emancipação feminina, e a dura vida de uma mulher descasada com filha e sozinha para resolver seus problemas, dizemq eu a casa da personagem que era socióloga foi isnpirada na casa da ex primeira dama do país Dona Ruth Cardoso. Ao final do primeiro ano da série a TV Globo resolve fazer um especial reunindo as grandes interpretes brasileiras à época e convida para um mesmo especial que vinha alavancado com perguntas feitas pela própria Malu (Regina Duarte) a todas as participantes. Estiveram presentes neste especial da TV as seguintes cantoras: Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Simone, Quarteto em Cy, Fafá de Belém, Joanna, Zezé Motta, Rita Lee, este documento vivo de uma época já deveria ter sido disponibilizado em DVD para uma ávido publico colecionar da memória musical brasileira mas isto ainda não ocorreu. Chegou sim pelas mãos do Titã Charles Gavin a trilha sonora lançada neste mesmo ano da série televisiva, além de todas as cantoras citadas acima o CD hora relançado conta com uma faixa na voz da grande cantora Maysa, portanto estamos diante de uma edição verdadeiramente histórica. A canção tema da abertura da minissérie que projetou definitivamente sua interpreta para o hall das grandes cantoras de todos os tempos do Brasil é “Começar de Novo” do compositor Ivan Lins, a canção foi primeiramente oferecida para Maria Bethânia que a recusou em seguida ofereceram a Simone que gravou-a com maestria em versão até hoje reconhecida mundialmente. Temos uma Elis Regina engajada cantando as dores de um povo oprimido por uma ditadura militar sórdida, naquele momento ouvia-se em todos os cantos deste nosso enorme Brasil a canção de João Bosco e Aldir Blanc que “O bêbado e a equilibrista”, seguida do que foi o hit do verão daqueles anos composta por Rita Lee a canção “Mania de Você”, tempos clássicos da MPB na voz de Gal Costa a canção de Caetano Veloso e Milton Nascimento “Paula e Bebeto” uma ode ao amor livre, e a canção de Djavan chamada “Álibi” que incluída no LP do mesmo nome da cantora Maria Bethânia a tornou neste ano a primeira interprete mulher a vender hum milhão de cópias de seu LP. Zezé Motta aparece cantando uma canção composta exclusivamente para ela por Caetano Veloso a bela “Pecado original” e Mariana Lima aparece cantando uma composição de Ângela Ro Ro intitulada “Não há cabeça”. Para quem considera este pais um pais de cantoras este CD só reforça a teoria de que nosso pais tem a voz feminina, vale a pena ter entre sua coleção de CDs este exemplar.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O BORDADO DE RODRIGO MARANHÃO.


Rodrigo Maranhão é Cantor, compositor, instrumentista e líder do grupo carioca Bangalafumenga, está há mais de 10 anos compondo para cantoras como: Verônica Sabino, Fernanda Abreu e Roberta Sá, no ano passado (2007) lançou seu trabalho solo intitulado “Bordado”.

Este compositor acabou conhecido mundialmente quando a cantora Maria Rita incluiu três canções suas em seu CD intitulado: “Segundo” e obteve o Grammy de melhor canção por “Caminho das Águas”.

O CD tem apenas 29 minutos e a sensação ao terminar de ouvi-lo é a de querer mais, essa sensação é um ótimo sinal quando ouvimos pela primeira vez uma obra musical do começo ao fim.

Sabiamente Rodrigo Maranhão encerra o CD com a ciranda “Caminho das Águas”, consagrada na voz de Maria Rita, a interpretação de Rodrigo resgata a verdadeira vocação da canção, uma ciranda boa de ser cantada junto aos amigos e a beira mar.

... caminho bordado a fé, caminho das águas, me leva que quero ver ...

O Bordado de Rodrigo Maranhão está em sua plena beleza, retrato neste CD, que tem sonoridade acústica profundamente atraente aos ouvidos...

... eu naveguei demais, velho sonhador ...

Certamente o compositor que habita Rodrigo Maranhão deve ainda compor muitas canções, com o gosto do sertão do Brasil, isto se faz necessário para que a novo geração de brasileiros (as) possa perceber o quão profundo é nossa musicalidade, mas o cantor que também habita Rodrigo Maranhão não pode nunca deixar de nos presentear com o sabor de sua voz.

Algo de modernidade habita a voz do cantor, num misto de Almir Sater e Chico César sintetizando assim a segunda metade dos anos 90 e a primeira dos anos 2000 que começa a fechar-se em breve.

A audição do CD “Bordado” nos permite um passeio musical por todos os cantos de nosso Brasil, é fascinante perceber o quanto um CD com apenas 29 minutos é capaz de nos fazer sentir tão brasileiro.

Rodrigo Maranhão faz parte daquela fina confraria de cantores e compositores que o Brasil faz questão de ter desde o final do século XIX, provando ao resto do mundo que nosso cancioneiro é de fato o mais harmonioso do mundo. Salve! Salve! Rodrigo Maranhão.

ZÉLIA DUNCAN – PRÉ PÓS – O SHOW.


Em novembro do ano passado (2006) aqui no Auditório Ibirapuera em São Paulo, a cantora Zélia Duncan registrou em DVD seu show “Pré Pós tudo bossa band” e estávamos lá, empolgadissimos por ver pela primeira vez esta cantora que tanto ouvíamos em casa.

O show foi emocionante, nenhum erro, foi gravado de primeira, com efeitos, cenários, e uma presença de palco únicas, tudo parecia mágico naquela noite, até mesmo o reencontro de velhos e bons amigos.

Zélia já havia nos surpreendidos por aceitar fazer parte da reedição do grupo Os Mutantes e pelos poucos shows que vinha fazendo com a cantora Simone ícone dos anos 70.

No show Zélia Duncan mostrou-se antenadissima com tudo o que há de bom em nossa musica popular, resgatou o poeta Itamar Assunção convidando sua filha para uma participação para lá de especial.

Os músicos pareciam fazer parte da grande família que aparentemente Zélia junta a seu redor sempre que chega, e seus fãs deram um show a parte, de fato ficou-nos provado que ela é realmente muito querida.

Muito simpática, Zélia interagiu com o publico o tempo todo, parecia de fato que éramos peça fundamental, todos integrados ao belo cenário que de tão despojada parecia juntar-se a platéia numa simbiose única, antes nunca vista por nós.


Os hits são todos do belo repertório que Zélia vem juntando ao longo dos anos, numa miscelânea que reuniu canções o CD/ DVD “Eu me transformo em outras” e o CD “Pré Pós” , tudo com muito esmero.

Não imaginava eu que seria um dos últimos shows que assistiríamos antes da partida de meu amor, acabou por ser, mas agora passados muitos meses e assistindo ao DVD a mesma emoção que nos tomou durante a gravação volta com força.

Zélia é mesmo uma cantora querida, muito querida que é impossível não tê-la entre os que mais amamos.

A MARROM CANTA TUDO O QUE GOSTA.


Alcione continua cantando “de tudo” e o melhor o tudo que ela gosta, pois é este o titulo de seu mais novo trabalho “De tudo o que eu gosto” , tem lá baladas, sambas canção, musicas regionais e participações pra lá de especiais que vão do Ministro da Cultura Gilberto Gil a Martinália, isso pra não falar de Marcelo Falcão e Homero Ferreira.

Certamente os críticos mais ferrenhos vão desdenhar deste trabalho, porque provavelmente não tenha nada novo ou venha a ser um marco divisor de água na carreira da Marrom.

Mas para os fãs que tem a vida marcada pelas canções desta grande cantora, este é mais um trabalho que vem trazer alegria aos ouvidos acostumados com a voz incomparável dela.

Para os fãs mais antigos, está lá a belíssima canção com que Gilberto Gil a presenteou e que gravou no ainda LP “Alerta geral” só pelo titulo já deslumbramos as harmonias que chegarão sutis aos ouvidos: “Entre a sola e o salto”.

Mas é impossível falar deste trabalho de Alcione sem tocar na composição de Sombrinha chamada: “ Luz do nosso Amor” que nos diz : ... luz do nosso amor / brilho que seduziu / claro que me invadiu / iluminando me acendeu .. parece obvio e banal mas na deliciosa voz de Alcione ganha um encantamento especial.

Na verdade é assim que Alcione tem marcado sua presença na nata da MPB sempre tirando da obviedade as melhores interpretações que de tão generosas transformam as canções em clássicos imortais.


Alcione é uma espécie rara de DIVA, uma DFIVA que aprece sempre próxima de seus súditos, sempre disponíveis, para participações, para abraços calorosos. Ela foi a cantora predileta de um amor que a vida me tirou, e foi com ele que aprendi que: ... não vou viver aos prantos por você, mas não sei como esquecer essa paixão... pois é isos que ela canta em “Como da primeira vez” canção que esta no novo CD.

O SAMBA É DELA – MARIA RITA.


Maria Rita em seu terceiro trabalho enveredou pelo samba e podemos dizer que começou muito bem acompanhada com composições de Arlindo Cruz à Paulinho da Viola passando por outros compositores que entendem do assunto.

Muito tem se falado sobre a idéia que concebeu tal obra, comparações sempre inevitáveis com a trajetória de sua mãe a insuperável Elis Regina, mas de fato penso mesmo é que o artista tem que fazer o que quer, o que tiver vontade e fazê-lo da melhor maneira.

È visível que Maria Rita só tem melhorado a cada trabalho e já é evidente que veio para ficar e já é uma DIVA no cenário musical brasileiro e aparentemente será também no cenário mundial.

O trabalho inclui composições que permitem que Maria Rita mostre o quanto é interprete de primeira, alguns têm torcido o nariz e dito que a cantora tenta se popularizar para poder continuar a ser grande vendedora de CDs, isso é bobagem.

Maria Rita deve sim correr atrás da energia que tinha Clara Nunes ao entoar os diferentes tipos de samba que lhe chegavam as mãos, ou então conseguir tornar obras primas tudo que sua voz tocar como fazia Elis regina. Mas para isso ela tem tempo.

Incompreensível mesmo é a ausência de Paulinho da Viola no CD que foi convidado e acabou por declinar do convite, talvez por estar envolvido no seu projeto acústico que chega rapidamente as lojas.

A música que a gravadora de Maria Rita escolheu para trabalhar a divulgação do CD que recebeu o nome de : “Samba Meu”, é uma composição de Arlindo Cruz , intitulada “Ta perdoada”, já estourada nas rádios a canção já caiu na boca do povo e deve se transformar num dos maiores sucessos do ano.

Maria Rita é sempre esperada com muita ansiedade e tem feito sempre ser correspondida as expectativas.

A NÊGA LUCIANA MELLO.


Luciana Mello, jovem cantora paulistana, filha o grande interprete Jair Rodrigues e irmã do compositor Jair Oliveira (ex- turma do balão mágico nos anos 80), está amadurecendo a cada trabalho que apresenta a seu publico, neste último CD intitulado apenas “Nega” isso fica evidente.

O trabalho tem predominantemente canções do bom compositor Jair Oliveira, que conhece bem a irmã e sabe onde ela pode levar sua voz e seu swing, e aparentemente tem a intencionalidade de transformá-la numa bela DIVA da Black Music brasileira.

Mas não é só Jair Oliveira que está no CD de Luciana Mello, temos também Cláudio Lins e Dudu Falcão na bela: “Língua” que diz mais ou menos isso : ... dos livros, mais antigos, raros , velhos pergaminhos / Aritmética, filosofia, história / eu tento decifrar que língua você tanto fala ... mostrando que a geração de filhos dos grandes mestres da MPB estão crescidos e cada vez melhores.

Luciana Mello trás também no álbum uma canção intitulada “ Lágrimas de diamantes” de Paulinho Moska cheia de requintes que os conhecedores da obra deste compositor conhecem tão bem, vejamos o que diz sua letra: ... não se preocupe mais/ com minha imperfeição / não se preocupe mais /porque me disse não ...

Como vêem o CD esta mesmo imperdível e vale a pena ser conferido e degustado, Luciana Mello merece muita atenção por parte de todos os amantes da boa música brasileira, ela é muito boa.

Impossível encerrar estes escritos sem dizer que atrevidamente esta cantora encerra o CD com uma das mais belas canções composta pelo homem em todos os tempos, de maneira como só as DIVAS cantam ela encerra cantando: “Only You” é preciso falar mais alguma coisa? Corra e vá ouvi-la !

CHICO BAURQUE EM CARIOCA AO VIVO .


Chico Buarque trás CD e DVD com a gravação da bem sucedida turnee que fez a partir do lançamento do CD Carioca em 2006 pela gravadora Biscoito Fino, por onde passou o show foi um estrondoso sucesso de publico e critica.
Qualquer brasileiro deve orgulhar-se de ter entre seus compatriotas um homem com tamanha coerência ideológica e musical, só mesmo comparado a um Victor Jará do Chile ou a um Silvio Rodriguez de Cuba.
A temporada na casa de shows Tom Brasil em São Paulo foi a escolhida para o registro deste que é um dos mais belos shows de Chico Buarque, a longa temporada em São Paulo teve todos seus ingressos vendidos nos dois primeiros dias, e olhem que foram 06 semanas em cartaz.
Com cenário simples homenageando o Rio de Janeiro, afinal o álbum chamou-se Carioca não por acaso, figuro discreto e uma banda de gabarito internacional, Chico Buarque passeou tranquilamente pelo melhor de seu repertório, brincou e encantou a todos que assistiram o show.
O CD ao ser ouvido soa harmônico e deliciosamente fresco, já o DVD trás as imagens captadas com muita sabedoria e inspiração o que torna o espectador ainda mais comovido diante das apresentações de um Chico Buarque absolutamente encantador.
A abertura do CD/DVD já mostra o que virá pela frente a mistura entre as canções “Voltei a cantar, “ Mambembe” e “Dura na queda” faz arrepiar tanto ao ouvinte sessentão de Chico Buarque como ao jovem adolescente que esteja sendo apresentado a este compositor agora em 2007.
Chico Buarque vai mesclando ao longo do CD composições recentes com antigos clássicos compostos por ele mesmo em parceria com grandes poetas de nossa música e se supera a cada novo acorde.
Ninguém cansa de ouvir canções como : “João e Maria” (que encerra do CD que é duplo, ou então a belíssima “ Quem te viu quem te vê” e o que dizer então de ouvir a canção delicada intitulada “As vitrines”.
Isso para não tocarmos em : “Palavra de Mulher”, “Eu te amo”, “Mil perdões”, “A bela e a fera”, “Bye Bye Brasil”, “Sem compromisso” , “Deixa a menina” enfim tudo o que a gente sonha ouvir está lá num registro que chega já marcado com o carimbo “HISTÓRICO”.

ERASMO CARLOS CONVIDA II.


Erasmo Carlos, retoma Projeto que firmou-o e trouxe a respeitabilidade que precisava para firmar-se dentro do universo da MPB onde em duetos dividia as mais belas canções que em parceria com Roberto Carlos havia produzido até então.

Agora em meios a primeira década do novo século ele retorna ao Projeto para reaparecer no cenário musical causando certa comoção já que é uma das figuras mais queridas do meio artístico musical brasileiro.

Desta vez temos um leque bem variado de duetos, alguns surpreendentes outros o ouvido desconfia, mas no geral todos permitem que possamos fazer um mergulho na alma deste compositor que talvez seja o mais terno da MPB.

O CD intitulado “Erasmo Carlos – Convida II” é aberto pelo dueto com o animadíssimo cantos Lulu Santos, juntos eles entoam a não menos animada canção “Coqueiro Verde” numa reedição que chega quase a superar a gravação original, e trás para as novas gerações a possibilidade de conhecer a produção de outrora do chamado rock and roll brasileiro.

Em seguida em duo que faz os ouvidos estranharem Erasmo Carlos divide os vocais com ninguém menos que Chico Buarque na belíssima composição chamada “Olha” é difícil o ouvido assimilar tal duo, e as emissoras de rádios insistiram em martelar a canção, afinal tudo o que Chico Buarque toca vira ouro na MPB, enfim isso não é bem verdade basta ouvir a canção.

Mas todas as outras escolhas são acertadas e produzem efeitos únicos no CD que é cheio de alegria, estão nele a turma do Skank, a grande Marisa Monte que já havia trazido a musicalidade de Éramos para dentro de seu peculiar universo.

Temos um Zeca Pagodinho que provavelmente só aceitou porque nunca mesmo recusa convites para participações especiais, temos uma Adriana Calcanhoto que comove ao interpretar “ Ilegal, imoral ou engorda”, um Djavan muito a vontade na gravação de “De tanto amor”.

Bem ainda temos: Kid Abelha, Os Cariocas e Milton Nascimento encerrando com a manjada “Emoções” enfim o especial mesmo neste CD é a liberação por parte de Roberto Carlos da gravação da canção “ Vou ficar nu para chamar sua atenção” antes proibida e retirada do CD “Seda Pura de Simone no ano de 2001, agora liberada Erasmo Carlos convida merecidamente Simone para em duo fazerem o que sabem de melhor cantar e encantar seus ouvintes

ROBERTA SÁ NUM BELO E ESTRANHO DIA.


Roberta Sá está em seu segundo álbum, que mostra-a muito mais madura e completamente relacionada com o que se faz de melhor em matéria de música brasileira, as diversas participações e canjas em show de amigos e ídolos lhe renderam uma maturidade precoce.

Sua delicadeza e suavidade contrastam com a rigidez e o domínio vocal que ela trata como só é permitido as grandes DIVAS de nossa canção, ela se segura numa tranqüilidade que chega a incomodar.

O CD chama-se: “ Que belo estranho dia pra se ter alegria” com um titulo emblemático que traduz exatamente o que o CD em suas treze canções passam ao ouvinte, seja numa primeira audição, ou seja numa audição de fã que não agüentava mais esperar pelo trabalho da DIVA.

Já no inicio do Álbum, Roberta Sá regata o compositor Sidney Miler produzindo uma das faixas mais bonitas do trabalho, ela entoa a canção Alô fevereiro de maneira a torná-la jovial e completamente atual.

Tem também no CD composição de Moreno Veloso (filho mais velho de Caetano) , na canção intitulada “ Mais Alguém”, os expoentes das canções cerebrais do século XXI estão presente em todo o trabalho.

Não falta composição de Pedro Luis chamada “Janeiros” de um lirismo que comove o ouvinte e o faz pensar o quanto este Brasil é privilegiado por ter tantos compositores e tantas cantoras fascinantes que perpetuam os escritos jogando-os par a humanidade.

Temos Lula Queiroga com canção que dá titulo ao CD e uma exuberante Dona Ivone Lara com a canção “Cansei de esperar você” que msotra o quanto Roberta Sá se ligando a cada dia com mais profundidade as raízes do cancioneiro carioca.

O compositor que mais aparece no trabalho é mesmo Pedro Luis que trás a Roberta Sá a possibilidade de firmar-se como talvez a maior cantora de sua geração.

LEILA PINHEIRO AO VIVO NOS HORIZONTES DO MUNDO.


Leila Pinheiro em CD e DVD ao vivo que nascem a partir do belíssimo CD de estúdio lançado em 2006, são sem duvidas prova de que a música popular brasileira pode se reinventar constantemente a partir de seus compositores e sobretudo a partir de suas interpretes.

Com um inicio de carreira muito colado a trajetória de Elis Regina e no movimento bossa novista, Leila Pinheiro conseguiu ao longo de todo esses mais de 20 anos de carreira ir marcando com a profundidade suficiente seu lugar na história de nossa musica.

Quando precisou fez álbuns excelentes com Roberto Menescal e consolidou uma carreira internacional, no mercado fonográfico brasileiro não se furtou a lançar álbuns onde trazia releituras muito particulares de obras de uma geração roqueira como foi o caso da canção de Renato Russo que gravou ainda nos anos 80 arrepiando os roqueiros e causando comoção no seleto grupo de amantes da boa música.

Este faro afinado levou-a também a obra do compositor Guinga que acabou por ter dela um álbum praticamente inteiro em homenagem a suas composições, esta audácia fez com que ficasse difícil rotular o trabalho de Leila.

Neste CD é possível encontrar “Tempo Perdido” de Renato Russo num elo arranjo que emociona e dá saudade da época em que ele estava vivo por aqui compondo sem parar.

Também encontramos o que considero a versão definitiva da canção de Marcelo Yuka “ Minha Alma”, num arranjo muito bonito que faz apenas destacar e muito a poderosa voz de Leila.

E durante o CD e DVD , Leila Pinheiro passeia pelo que há de melhor no nosso cancioneiro, temos lá composições de: Guinga , Marcos Valle, Ary Barroso, Sueli Costa, Dorival Caymmi, Djavan, Ivan Lins, Chico Buaruqe, Abel Silva, Toquinho, Francis Hime, Fátima Guedes, Joyce, Flavio Venturini, Assis Valente e João Donato.

Bem depois desta lista é impossível não dizer que este trabalho é primoroso e merece ser visto e revisto cotidianamente pelos fãs da boa música.

A FORTALEZA DE FAGNER.


Senhor soberano das terras do nordeste brasileiro, Raimundo Fagner figura única no cenário musical desde os anos 70, está de volta ao mercado discográfico com um novo CD que chama-se apenas: “Fortaleza”.

Podemos entender o singelo titulo, como uma bela homenagem a uma das cidades mais belas do litoral nordestino, ou apenas pelo seu significado literário, pois Raimundo Fagner entre todas as brigas que vêem ao longo dos anos colecionando com gravadoras, canais de televisão, órgãos de imprensa pode mesmo é ser considerado uma fortaleza de coragem e atitude.

Recentemente está fortaleza, abriu o coração para uma publicação semanal afirmando que já amara tanto homens quanto mulheres, a declaração surpreendeu porque Fagner traz nas marcas que tem no rosto, o retrato do homem nordestino, que muitas vezes não sabe como demonstrar afeto.

Evidentemente toda a sensibilidade que Fagner deveria ter mostrado para seu publico ocorre sistematicamente desde que iniciou sua carreira, mas falemos do belo CD.

Duas novas composições em parceria com o poeta Fausto Nilo abrilhantam a seleção de 12 canções; em “Amor e Utopia” eles dizem assim: ... andei fora da lei / por amor e utopia / buscando a lucidez / muito além das estrelas ... e seguem em “Fortaleza” dizendo: ... velas brancas do mar vão surgindo / com as primeiras estrelas do céu / onde o verde da tarde é mais lindo / e o azul só precisa de Deus ...

Fagner passeia por outros compositores como: Capinam, Evaldo Goveia, o jovem Jorge Vercilo e Taiguara, mas nada me emocionou mais que ouvir “No tempo dos quintais” uma composição de Sivuca e Paulo Tapajós em sua voz, a canção diz assim ... Era uma vez um tempo de pardais/ de verde nos quintais / faz muito tempo atrás / quando ainda havia fadas ... está canção me lembra meu mais belo amor que já partiu, e que amava esta canção.

O CD vale em sua totalidade pela sinceridade que sempre comoveu os fãs de Fagner, que ele continue a ser uma Fortaleza dentro do universo musical brasileiro !

SUELI COSTA E O AMOR BLUE.


Sueli Costa é uma das maiores compositoras de todos os tempos, suas belas composições vêem por décadas embalando o povo brasileiro, através das vozes femininas que dão vida a cada uma de suas belas canções.

Estão entre as interpretes que consagraram-se e fizeram consagrar Sueli: Maria Bethânia, Nana Caymmi e Simone (esta deve ser a que mais composições gravou dela).

Neste novo CD bancado com recursos próprios numa dificuldade comovente, intitulado “Amor Blue”, Sueli Costa consegue a proeza de reunir as três maiores cantoras brasileiras para interpretar canções inéditas em suas vozes compostas por ela.

Estão no CD, Maria Bethânia onde canta a canção: “ Sim, sei bem” que diz mais ou menos assim: ... Sim, sei bem / que nunca serei alguém / sei, de sobra / que nunca terei uma obra/ sei, enfim / que nunca saberei de mim / sei, enfim ...

Já a grande Nana Caymmi ficou com a singela “ Cantiga do Vento” que traz os belos versos que sopram assim: ... O vento passa a galope/ no seu cavalo marinho/ rumo a solidão do mar / eu nunca mais fui menino/ só tenho amores sozinho/ mas um dia eu soube amar ...

Em minha modesta opinião para a cantora Simone ficou a mais bela composição deste novo milênio que se chama “Porque te Amo” que nos diz: ...Andarei nos teus olhos/debaixo dos teus olhos/ além dos teus olhos andarei/ somente porque te amo / andarei no teu corpo/por cima do teu corpo/ dentro do teu corpo andarei / somente porque te amo ...
O CD conta ainda com as participações afetivas de Fernanda Cunha (sobrinha de Sueli) e cantora exemplar e de Daniel Gonzaga filho do grande poeta Gonzaguinha.

Sueli Costa toca e canta por todo o CD, mas o que realmente importa é a alegria de saber que a MPB continua viva e a pulsar forte e firme neste coração tão lindo que vive dentro desta que é nossa melhor compositora.

MÔNICA SALMASO EM NOITES DE GALA.


A cantora Mônica Salmaso faz um mergulho profundo na obra de Chico Buarque de Holanda neste CD “EM NOITES DE GALA”, lançado pela gravadora Biscoito Fino, a escolha do repertório nos mostra a leitura da cantora sobre a obra do compositor numero hum da MPB.

A canção mais jovem de Chico Buarque escolhida por Mônica Salmaso para este trabalho foi composta há exatos 10 anos (1997) e chama-se “Você, você” , na verdade Mônica faz um mergulho pelo repertório do compositor nos anos 60, 70 e 80, extraindo de suas interpretações verdadeiras pérolas.

A cantora convidou para acompanhá-la neste CD o conceituadissimo grupo “Pau Brasil” que trás um requinte totalmente pertinente ao universo buarquinho que Mônica só faz enobrecer ainda mais.

Mônica Salmaso foi convidada especial de Chico Buarque para seu CD intitulado “Carioca” de 2006 e em 2004 a cantora já havia feito um show inteiro só com musicas de Chico Buarque, faltava mesmo era o registro da voz da cantora nas composições dele.

O titulo traduz um pouco os caminhos escolhidos por Mônica para elaboração do CD, “ Noites de gala, samba na rua” bela escolha para um titulo. Percorrendo toda a obra de Chico Buarque escolhida este trabalho e de uma delicadeza única.

Certa vez ao participar de uma das primeiras edições da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) na cidade de Paraty , encontrei Mônica Salmaso caminhando com Airto Lindsay pelas belas ruelas da cidade, num ato de coragem extremado perdi a vergonha e fui falar com ela, estava com um de seus cds na bolsa e pedi que o autografasse, ela assim o fez.

Ao ouvir este CD lembro-me deste encontro com Mônica em Paraty e penso que como aquela bela cidade, a voz de Mônica Salmaso enche o Brasil de orgulho.

ISABELLA TAVIANI DIZ SIM.


A cantora e compositora Isabella Taviani, caiu definitivamente no gosto do grande publico, depois de um belo CD/DVD ao vivo que a firmou no cenário musical brasileiro, ela lança um novo CD onde apenas 02 faixas não são de sua própria safra de composições.

Isabella Taviani já deve estar se acostumando em ter suas canções escolhidas para serem temas de novelas globais, tanto que a canção que abre o CD intitulado “Digo Sim” é tema de uma das novelas da Rede Globo e chama-se: “Luxúria”, entre as canções que não são de sua autoria está uma de Gilberto Gil.

Cantora de tom fortes e postura marcante no palco, Isabella não se deixa iludir pelo apelo midiatico, e continua tocando nos assuntos que são de seu interesse, e sobretudo cantando com sua voz forte as dores e alegrias de amores diferentes e audaciosos.

Para tanto basta escutarmos com atenção a canção intitulada: “Iguais” que diz: ... no dia em que ela se declarou, a cidade inteira silenciou/ todos queriam ouvir a resposta/ águias com seus vôos rasantes, urubus à espreita de um podre instante ...

E por ai vai sempre com força, sempre lançando tonalidades carregadas as letras compostas por sua genialidade quase única no cenário do cancioneiro popular. Talvez Isabella Taviani escola uma composição de Gilberto Gil para fechar seu trabalho por saber que suas canções tem a força e a marca que foram e são características determinantes da obra de Gil.

... sou viramundo virado / nas rondas da maravilha / cortando a faca e facão/ os desatinos da vida .. bem a vida de Isabella Tavinani tem sido repleta de desatinos que acertam em cheio nossos corações, que ela assim continue !

VANESSA DA MATA E SEU SIM VERMELHO.


Todas as canções deste novo CD da cantora Vanessa da Mata, foram compostas por ela mesma, são treze faixas em que divide a parceria com compositores da safra nova da MPB. Divide a voz com o cantor Bem Harper numa canção que provavelmente tem o intuito de lançá-la definitivamente no cenário mundial da canção popular. A canção que abre o CD chamada “Vermelho” já nos mostra o quanto Vanessa da Mata vem crescendo musicalmente ao longo de sua tão curta carreira, quando a canção diz : ... ver que tudo pode retroceder / que aquele velho pode ser eu / no fundo da alma há solidão / e um frio que suplica um aconchego ... fico a imaginar esta canção na voz por exemplo da Rainha Maria Bethânia. Obra prima mesmo é a canção chamada: “ Fugiu com a novela”, onde a compositora mostra-se completamente imersa no interior de um Brasil onde o sonho encantado que as telenovelas a anos provocam transforman-se numa pequena história profunda que mostra-nos a realidade de muitas mulheres e homens que tem como única forma de distração as telenovelas brasileiras. Eu perdi o meu amor / para uma novela das oito / desde essa desilusão eu me desiludi / O meu coração / palpita aparte poupando-me / de um pouco de sonhos/ depois desse desengano ... e por ai vai alinhavando uma triste história de amor, muito comum num Brasil ainda marcado pelo machismo e pela submissão feminina. Entre tantas e belas composições, penso que Vanessa da Mata poderia e deve ser generosa a ponto de poder distribuir entre as grandes vozes femininas doe nosso cenário musical suas canções, porque é impossível ouvir seu CD sem pensar o quanto é boa compositora, ela é um misto de Marisa Monte, Marina Lima, Adriana Calcanhoto, misturadas com a força interpretativa de Clara Nunes. Em mais uma bela faixa do CD encontramos a composição chamada: “Quem irá nos proteger” que diz assim: ... você conta por aí / da nossa felicidade/ mas nem todos podem ouvir / meu bem, meu bem, meu bem / ouça o mau tom do alheio ... Bem Vanessa da Mata esta protegida, basta agora proteger todo o cenário musical brasileiro com suas belas composições e seu canto alegre.

TERESA SALGUEIRO, A VOZ DE PORTUGAL NAS CANÇÕES DO BRASIL.


Cantora consagrada mundialmente por sua participação durante anos no conjunto português MADREDEUS, lança-se em carreira solo com um álbum inteirinho dedicado a boa musica de nosso cancioneiro popular, numa rica tentativa de abrir novas possibilidades para sua carreira. Acompanhada pelo Septeto de João Cristal, a rica voz de Teresa Salgueiro passeia por um cenário musical brasileiro de mais de um século, não sei se propositadamente mas ela busca em nosso cancioneiro algo do repertório de Carmen Miranda, no CD chamado Você e Eu. Como todos sabem Carmen Miranda nasceu em Portugal e veio muito pequena para o Brasil, e no CD encontramos uma das composições de Ari Barroso que projetou Carmen internacionalmente: “Na baixa do sapateiro”. Ela passa por Dorival Caymmi outro compositor muito presente na trajetória profissional e pessoal de Carmen Miranda, talvez ainda falte aprender revirar os olhinhos como Caymmi um dia ensinou a Carmen que aprendeu tão bem que fez com que tal cacoete torna-se sua marca registrada mundialmente até os dias atuais. Mas o CD também tem seus momentos bossa nova com muitas canções deste movimento musical brasileiro reconhecido em todo o mundo, podemos perceber que talvez a intenção de Teresa seja justamente a de gravar nosso cancioneiro no que ele tem de mais internacional, assim consegue entrada em outros mercados que não o do eixo Portugal – Espanha. O CD tem quase todas as composições que solidificaram o movimento da bossa nova no mundo, as mais celebres canções estão lá registradas com entusiasmo e alegria por Teresa Salgueiro. Teresa lançou o álbum no Brasil no inicio desde ano em shows para um publico bem pequeno, mas pode mostrar que de fato interessa-se por nossa música e buscou fazer um trabalho baseado principalmente no respeito que tem pelas composições brasileiras que selecionou para o álbum Acredito que seja esse um CD que tornar-se-á item obrigatório entre os amantes da boa musica aqui no Brasil e além mar também.

CÉLIA, FAZENDO O TEMPO SOAR SUA SÍLABA.


Célia, cantora que não carece de cenários nem de grandes orquestras, como abre a apresentação deste seu CD em enxuta apresentação Hermínio Bello de Carvalho, mostra com mais esta produção de Thiago Marques Luiz que de fato sua voz aveludada é única em nosso cenário musical. Na verdade o CD intitulado “ faço no tempo soar minha sílaba” mostra Célia em parceria com o músico Dino Barioni, lançado em 2007 pela Lua Music trás uma série de participações afetivas musicais, podemos encontrar no álbum a doce voz de Lucinha Lins, a vibrante voz de Beth Carvalho, a firmeza da voz de Zélia Dunca, a musicalidade de Dominguinhos e todo o swing do Quinteto em Branco e Preto. O CD com sonoridade requintada, coloca um feixe de luz sobre esta cantora que tem mais de 30 anos de carreira e tem levado a vida a fazer pequenos shows, em bares, boates, totalmente fora da mídia nos últimos 20 anos, esta produção presenteia o publico de gosto refinado. A escolha do repertório é capitulo a parte nesta produção, temos belas composições de Caetano Veloso, Martinho da Vila, Adoniran Barbosa, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Hermínio Bello de Carvalho e Chico Buarque. Todas as músicas escolhidas cabem tão bem dentro da voz de Célia que ao terminar de ouvir cada uma das canções, nos perguntamos: Será que ela já havia gravado estas canções? Cada faixa trás algo de definitivo para as interpretações já dadas ao longo de décadas as mesmas. A canção “Disritmia” em duo com Zélia Duncan é um dos grandes destaques deste CD, soando como a tradução do imaginário feminino criando cenas que talvez nem mesmo seu compositor tenha pensado, mas que cabem perfeitamente dentro do universo em que a canção foi composta. Talvez a gravação de “Pressentimento” em duo com a cantora Beth Carvalho possa estar entre um dos mais belos encontros já produzidos no cancioneiro popular brasileiro, a bela composição ganha leveza e uma transparência que tocam a alma ao ouvi-la, duas vozes impares perpetuando para a eternidade uma das mais belas composições brasileiras. Fechando com as belas palavras de Hermínio Bello de Carvalho que diz: ... e é um régio presente dos deuses reouvi-la tão bem produzida e magnificamente acompanhada. Ouçam ........

CLAUDETTE SOARES – A VOLTA.


Ao pensarmos nas DIVAS de nossa música popular brasileira é impossível não trazermos a memória desta cantora que tem, 1m49cm, amiga de Sylvinha Telles, afilhada de Roberto Carlos, integrante da turma da Bossa Nova e respeitada por todo o universo musical brasileiro. Claudette Soares é um ícone de nossa cultura, lançou e ganhou a canção chamada “HOJE” de um dos mais interessantes compositores da musica brasileira, ninguém menos que “Taiguara”. No auge da ditadura militar lançou um LP em que só cantava canções de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque, um atrevimento único que balançou os escritórios de sua gravadora de então, mostrou assim que a arte e seus movimentos estão sob qualquer regime, principalmente os regimes autoritários. Agora em 2007, a DIVA volta a cena com o magnífico CD “Foi a Noite – Canções de Tom Jobim” que muito mais que uma homenagem ao maestro soberano, trata-se de um CD que recoloca Claudette em destaque no cenário atual de nossa música. Muito mais que um tributo a obra de Tom Jobim o CD é uma ode a voz impecável de Claudette e uma belíssima manifestação de carinho a sua grande amiga a cantora Sylvinha Telles que partiu cedo, deixando um buraco até hoje não preenchido entre as interpretes de nossa música. A seleção de canções de Tom Jobim que foi escolhida para homenagear sua amizade com Syvinha Telles não podia ser melhor, estão lá as canções: “Discussão”, “Samba Torto” e “Eu preciso de você”, certamente os fãs devem estar enlouquecidos. Falar deste trabalho que recoloca Claudette Soares no cotidiano do mundo discográfico sem falar de seu produtor, Thiago Marques Luiz, é certamente uma leviandade que não pode ser permitida. Thiago é um pesquisador de MPB de uma generosidade imensa, menino carinhoso com os artistas que produz, ligadíssimo na memória musical brasileira e antenadissimo em relação do que de novo aparece no cenário. Os arranjos, a concepção gráfica e sobretudo a escolha do repertório tem a mão precisa de Thiago, que neste CD teve aparentemente a única intensão de recolocar no cenário musical uma de suas maiores DIVAS, e conseguiu: Salve! Salve! Claudette Soares e Salve! Salve! este jovem produtor musical!

LEILA MARIA, E AS CANÇÕES DE AMOR DE IGUAIS.


A cantora Leila Maria, após um CD de excelente qualidade onde gravou composições brasileiras vertidas pelo mundo afora para a língua inglesa, traz um novo trabalho, desta vez buscando cantar o amor entre iguais, instalando o mesmo clima jazzístico que tornou o CD anterior num dos melhores já lançados.
Leila Maria abre o CD com uma composição de Roberto e Erasmo Carlos sucesso absoluto na voz de Wanderléa no inicio dos anos 70, transposto para o universo GLS, a canção torna-se imbatível, muito embora os conhecedores da canção balancem pois todos sabem que a canção foi feita para a primeira mulher de Roberto Carlos que era desquitada na época, e não para um possível namorado do rei, esta canção chama-se: “Você vai ser o meu escândalo”. Posso dizer que o impacto desta canção nos dias de hoje é igual ou maior do que foi na época de seu lançamento, para isso é só contextualizá-la no Universo gay tanto masculino quanto feminino.
Em seguida Leila Maria trás a composição de Eduardo Dusek e Luis Carlos Góes intitulada “Seu tipo” imortalizada por Ney Matogrosso em álbum do mesmo nome lançado no inicio dos anos 80, Leila a grava de maneira a torná-la um hit das pistas de dança pelo Brasil afora, muito interessante a interpretação que a cantora dá a esta canção.
Mas a mais avassaladora das interpretações está na bela canção do magnífico Johnny Alf “Ilusão a toa”, Leila Maria se supera ao dar vida a canção que revela a paixão por alguém do mesmo sexo, num período da história que isso não era sequer permitido confidencias. Leila nos permite viajar a um período onde a intolerância fazia com que muitos sufocassem o amor.
As interpretações em Inglês que Leila Maria trás ao CD são primorosas e não deixam absolutamente nada a desejar as gravações originais, diria mesmo que inclusive tais interpretações superam as originais, pois o swing jazzístico de Leila Maria tornam suas interpretações únicas.
Ainda temos no CD uma composição de Lulu Santos hit nos anos 80 e símbolo de uma geração que aprendeu a por a cara pra fora e ir as ruas mostrar seus amores chamada: “Um certo alguém”, de balanço gostoso é impossível não cair na dança com a interpretação de Leila Maria para essa canção tão popular.
No CD temos um Chico Buarque muito inspirado em “Mar e Lua” nesta interpretação penso que Leila Maria poderia ter convidado alguém para um duo poderia inclusive ter convidado um cantor, pena que não rolou.
Enfim neste CD o amor está presente em todas as faixas independente dele ser vivenciado entre iguais ou diferentes, vale conferir e ter na cdteca de casa.

TODOS OS CANTOS DE MATEUS SARTORI.


... a beleza do mundo se enfeiou ...

Pois bem, não conhecer e não ouvir o cantor Mateus Sartori provoca exatamente o que a canção “Lamento” de Meyson diz logo no inicio destes escritos, é impossível aos amantes da boa MPB deixar de ouvir este cantor.

Nascido no interior de São Paulo, estudante de música e arquitetura, Mateus Sartori é o que de melhor São Paulo pode oferecer a música brasileira nesta primeira década do século XXI.

Em sua pequena discografia constam dois CDs e um DVD o primeiro lançado em 2005 que tem a canção “Lamento” entre outras perolas gravadas por Mateus Sartori chama-se: “Todos os cantos”, titulo absurdamente correto, nele estão contidas todas as possibilidades do canto de Mateus, ou quase todas, nele o cantor passeia por cantigas de domínio publico, caso de “Oxaguian”, e por clássicos da MPB, como: “Joanna Francesa” de Chico Buarque e “Quebra Pau” do saudoso Gonzaguinha, mas também tem Guinga, Djavan, Lenine e tantos outros.

A produção deste CD é de Mario Gil que contribui com a canção “Imperador da Ralé” um belo poema musical que diz mais ou menos assim:

... só tem paixão por mulher, se é moça pura ou mica flor, se é parideira não quer ...

Mas o trabalho recente de Mateus Sartori lançado em 2007 (CD + DVD) esgotados, é uma homenagem única ao mestre Dorival Caymmi, compositor muito cantado pelas vozes femininas de nossa MPB. Desta vez a obra de Caymmi ganha uma voz masculina impar para reler suas maiores composições, com perdão aos dois magníficos artistas e filhos de Dorival Caymmi, Dori e Danilo, Mateus Sartori trás jovialidade e leveza a quase centenária produção de Caymmi. Atreveria-me a dizer que é a voz definitiva para a obra de Caymmi se manter viva neste novo século.

Este CD sabiamente intitulado “02 de fevereiro” tem produção impecável de Rodolfo Stroeter, e tem participação do cantor Renato Brás, e trás encarte com fotos da festa baiana, o que dá requinte a produção, alias tanto o primeiro trabalho quanto este merecem parabéns pela delicadeza da concepção gráfica.

Espero que rapidamente volte as lojas a versão CD+DVD “02 de fevereiro” simplesmente porque é um item pra lá de necessário e básico para todas as casas que respiram música, as escolas que ensinam música, e as vielas que fazem música em nosso Brasil.

AS NOVAS VOZES E AS "VELHAS" CANÇÕES DA MPB.

É impossível para turma que já passou dos 35 anos de idade nada sentir ao ouvir as canções "Ronco da Cuíca", "Sem Fantasia" ou "Atrevida" respectivamente canções dos compositores: João Bosco/Aldir Blanc, Ivan Lins/Victor Martins e Chico Buarque, elas entre tantas outras, retratam um período de nossa história entre o fim dos anos 60 e meados dos anos 70, aquele período que chamamos de "Anos de Chumbo".
Pois bem, três jovens cantoras de nossa canção estão com CDs lançados agora neste final de ano, onde recriam esses clássicos. Cada uma com suas características próprias, suas referências, suas preferências, suas gravadoras e seus produtores, mas todas mergulhadas no que há de melhor no universo da música popular brasileira.
São elas as cantoras: Céu, Paula Santoro e Isabella Taviani também compositoras que só vêm reafirmar que o Brasil é um país de voz feminina. Nossa musicalidade é repleta de feminilidade, o que de inquietante essas cantoras trazem em seus CDs/DVDs é o mergulho em nossa história recente.
Há muito tempo, desde meados dos anos 80, a música brasileira optou pelo pop fácil e de gosto duvidoso, levando inclusive Damas da Canção a gravarem este estilo musical. Parecia que as canções com algum poder de reflexão estavam fadadas ao extermínio.
Nos anos 90 o surgimento de alguns compositores como: Chico César, Klébi, Zeca Baleiro trazendo novamente letras inteligentes e as canções com melodias elaboradas, recuperando assim a real vocação de nossa canção popular: alimentar com qualidade o mercado fonográfico.Quando nosso cancioneiro popular traz qualidade, nossas crianças e adolescente sentem-se estimulados à leitura e à composição, e é assim, que a gente faz um país. Pois com composições pobres e fáceis a gente desconstrói e até mesmo apaga da memória o que de bom já foi criado.Ao ouvir os três CDs que em seguida descreverei, percebo e minha alma se enche de alegria, a possibilidade de um país melhor, mais belo, singelo e cheio de inteligência e elegância. É importantíssimo a elegância em todos os aspectos de nossa existência, ao assistir a um programa de entrevistas na TV Aberta esta semana, me deparei com toda a elegância de Seu Jorge, pensei: - Meu Deus como é bom ter neste país gente tão elegante! Mas, por favor, entendam aqui elegância em seu significado mais complexo: vejamos o que o velho e bom dicionário nos diz: proporção adequada entre os elementos de uma composição artística, harmonia... in: Aurélio.
Céu - titulo do CD: Céu/2005 - paulistana de 25 anos, nome de batismo Maria do Céu Whitaker Poças trás em seu álbum de estréia, inúmeras e surpreendentes canções de sua própria autoria e recria de João Bosco e Aldir Blanc, "Ronco da Cuíca" de maneira magistral, é para lá de necessário, uma audição apurada, daquelas audições de costumamos fazer sozinhos num refúgio qualquer. Pensam que parou aí? Que nada ! Tem Bob Marley - "conCrete Jungle", estupendo e fabuloso. Para terminar que tal ... consciência, maior arma/mapa para qualquer lugar ... da canção Roda - (Céu-Beto Villares). Precisa dizer mais alguma coisa?? Quer saber mais e comprar este CD? http://www.ambulantediscos.com.br
Paula Santoro - titulo do CD: Paula Santoro/2005 - mineira há muito tempo na estrada esteve recentemente no Festival da TV Cultura, defendendo a canção: "Um samba a dois" de Eduardo Neves e Mauro Aguiar. O Cd saiu pela gravadora Biscoito Fino", como de costume, dispensou cuidados para lá de especiais. Paula trás logo de inicio a participação para lá de especial do cantor e compositor Chico Buarque em duo comovente em "Sem Fantasia". No mais ela passeia pelos mares mais profundos, abrindo literalmente o CD com a música "Se você disser que sim", dos magníficos: Moacir Santos/Vinícius de Moraes e, assim segue, por canções de Milton Nascimento, Djavan, Vitor Ramil, Cacaso, Moacyr Luz com Aldir Blanc e na canção de Seu Jorge que diz ... quando eu voltar para minha terra / eu nem sei se será frio ou primavera / se eu terei você à espera no portão / do nosso barracão, da nossa liberdade ... parceria com Robertinho Brandt. Para saber mais e comprar o CD: http://www.biscoitofino.com.br
Isabella Taviani - titulo do CD/DVD: Isabella Taviani ao vivo/2005 - carioca que diz ter em Dalva de Oliveira e Maria Callas sua inspiração para o cantar, assinou este ano contrato grandioso com uma "major" da industria fonográfica e está lançando CD/DVD de um show gravado ao vivo no Rio de Janeiro, que traz toda sua força e mostra que ela é da linhagem das Damas de Voz firme e forte de nossa canção popular. Compositora inspirada e apaixonada trás, com força poética, as dores de amor que nos toca a todos. No CD/DVD traz ainda os consagrados compositores: Sérgio Sampaio, Paulo Coelho e Raul Seixas, Ivan Lins e Vitor Martins e Antônio Maria e Fernando Lobo ... porque me olha com esses olhos de loucura? / Por que você diz meu nome?/ Por que você me procura? Se as nossas vidas juntas vão ter sempre um triste fim ... Se tiveres que escolher entre CD/DVD opte pelo DVD, porque a imagem de Isabella Taviani na telinha representa força e gana sempre.