sábado, 10 de abril de 2010

Todos os Sons Tocam a alma



Dogi costuma ouvir as canções que sua avó lhe
ensina – e depois as mostra a seus amigos, Alê e
Jean. São canções antigas, cheias de poesia... nem
sempre seus amigos gostam ou entendem do que
elas falam! Mas aos poucos eles descobrem que uma
canção pode ter um significado muito maior. Pode
falar de um amor, de uma saudade e até mesmo de
uma amizade. É isso: as canções muitas vezes
conseguem traduzir nossos sentimentos.
Quais são os sons que tocam sua alma?

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sábado, 3 de abril de 2010

O TEATRO NA PALMA DA MÃO DE FLAVIO RANGEL



Documentário lançado pela gravadora Biscoito Fino trás de forma cronológica a vida e obra de um dos maiores “homens das artes” que o Brasil já teve. Através de depoimento de amigos e parentes que compõem sua magnífica trajetória no universo cultural brasileiro, sentimos a cintilante presença de Flávio Rangel.

A primeira vez que ouvi falar de Flavio Rangel tinha meus 17 anos e andava apaixonado pela música popular brasileira, no Colégio em que cursava o ultimo ano, do que hoje chamam de Ensino Médio. Tive professores que nos apresentaram à Vinicius de Moraes, Chico Buarque de Holanda, Gonzaguinha, Caetano Veloso, Gilberto Gil e tantos outros, e eu havia escolhido meu ídolo: a cantora Simone, e foi vendo uma entrevista dela para a TV que fui apresentado a Flavio Rangel.

A importância dos ídolos para nossa formação sócio-cultural-afetiva é única, e até meados dos anos 80 era possível encontrar vários ídolos no cenário cultural brasileiro que nos trouxesse uma gama de informações, conceitos e personalidades que fariam a diferença em nossa formação como cidadão consciente de nosso papel. E eu fui presenteado, pois meus ídolos ajudaram a me compreender e a ler o mundo de forma aberta e inclusiva.

Flavio Rangel dirigiu a cantora Simone de 1079 até 1986, fase áurea desta grande interprete da MPB e eu estive em todos esses shows, apreciando cada detalhe da iluminação, da marcação de palco, e também pude apreciar seu talento assistindo de “Piaf” com Bibi Ferreira, à “Cyrano de Berjerac”, com Antonio Fagundes e “O Santo Inquérito”.

Ao assistir o documentário uma saudade de um tempo que parece tão próximo invadiu minha alma, e através de cada fala ia relembrando momentos de vivencias culturais enormes pelas quais passei e que as vezes ficam escondidas numa das gavetinhas que a memória teima em fazer-nos esquecer.

Foi Flavio Rangel que propôs a Simone incluir num de seus shows a canção “Caminhando - Pra não dizer que não falei das Flores” em seu repertório, e foi através da audição desta canção em 1979 que me tornei fã de Simone. Que bom que Flavio Rangel existiu e ainda é tão presente no cenário cultural do Brasil, afinal “... quem sabe faz a hora não espera acontecer ... “ Salve Flavio Rangel!

Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva

LINGUA DE TRAPO



* Item de Colecionador *

Em 1982, numa atividade cultural promovida pelo Diretório Acadêmico da Faculdade que estudava, conheci numa apresentação ao vivo o grupo Língua de Trapo, e o encantamento se deu instantaneamente. Tinha eu apenas 19 aninhos e a certeza que o mundo estava a meus pés ...hehehehe....

O show aconteceu numa das quadras da escola e era um baile de acolhimento de calouros, e estava lá aquele grupo de sonoridade absolutamente paulistana com um vocalista de ascendência oriental, enorme e forte, era uma figura que destoava do restante do grupo devido ao tamanho e do jeito espalhafatoso de vestir-se e comportar-se era absolutamente fantástica esta figura que logo deixaria o grupo.

Após este contato, corri às lojas do centro da cidade de São Paulo atrás de encontrar o LP do grupo que tinha uma capa azul e que por absolutamente falta de dinheiro não havia comprado na noite do baile da Faculdade. Ao comprá-lo a grata surpresa: a bolacha era verde feito aqueles disquinhos de contos de fadas que vendiam em bancas de jornais.

O grupo trazia embutido o conceito da irreverência e do sarcasmo que eram traduzidos nas composições quase sul reais que eles cantavam com a seriedade dos grandes interpretes. Por serem extremamente paulistanos o linguajar beirava as composições do grande Adoniran Barbosa, alias personagem sempre venerado pelo grupo.

Há alguns anos atrás foi lançada uma caixa contendo todos os LPs remasterizados e transformados em CD e um livreto que devem sem duvida fazer parte de qualquer coleção que queira descobrir qual o cenário musical paulista de 1980.

Neste trabalho há citações ao grande Cauby Peixoto e sua adorável canção “Conceição” numa sátira que cutucava a orientação sexual do cantor de maneira sutil e leve mostrando certo respeito necessário a esta figura genial do cenário musical nacional.

Há também uma brincadeira musical com o então best seller do momento o livro “O Que é Isso Companheiro” de Fernando Gabeira que dizia assim “... E quando veio aquela tar de anistia / Nem mais um dia fiquemo no exterior / E hoje já fazendo parte da história / Vendendo memória, hoje nois é escritor...” E impagávelmente engajada é o “Xote Bandeiroso” que diz... “Ai! Meu Deus!/ Essa máquina aperreia / (que aperriação) / Passo o tempo / trabalhando, em completa agonia / Em total escravidão Mas eu já nem penso mais em voltar pro meu sertão (nhanhanhão, em voltar pro meu sertão)..” QUE SAUDADES DOS MEUS 19 ANOS ...

Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br

Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva

FAGNER 1978 LP – ‘EU CANTO’



* Item de Colecionador*

O ano era 1978 e a gravadora era a CBS - a mesma de Roberto Carlos, o titulo do LP apenas dizia “Eu Canto” e o cantor de fato vinha arrebentado tudo o que encontrava pela frente no caldeirão da música popular brasileira. Falo de Raimundo Fagner que trazia para os ouvidos brasileiros o lamento e o choro do sertão do agreste.

Fagner já era um artista respeitado e ousava experimentar em seus trabalhos fonográficos, imprimindo com uma exatidão e rispidez os valores de um povo oprimido e discriminado no sudeste e sul do pais. Seu canto rasgava as sonoridades impondo uma melodia que estava guardada nos corações de boa parte dos brasileiros que amam a música.

Ele misturava neste efervesceste caldeirão composições de: Sueli Costa, Robertinho do Recife, Zé Ramalho, Cartola, Alceu Valença entre outros, e composições de sua própria autoria, desafiando as rádios a tocarem um novo som que vinha das entranhas do Brasil.

Não por acaso a canção que abre este trabalho se chamou “Revelação” e trazia em seus versos a propositura do trabalho deste que foi um dia o mais arrojado cantautor de nossa música, composta por uma dupla até então desconhecida para o grande publico Clodê e Clésio dizia em seus versos chorados “.... Um dia vestido / De saudade viva / Faz ressuscitar / Casas mal vividas / Camas repartidas / Faz se revelar / Quando a gente tenta / De toda maneira / Dele se guardar / Sentimento ilhado / Morto, amordaçado / Volta a incomodar ...”

A interpretação de Fagner para o clássico de Cartola “As Rosas não Falam” simplesmente mostraram para o sul maravilha que a voz do sertão era capaz de fazer sacudir a terra do samba, fazendo com que ela parasse para refletir sobre as desgraças que por muito tempo fora escondida com balanços e sonoridades vinda da zona sul da ex capital do Brasil.

O LP depois reeditado com capricho em CD pelo grande pesquisador Marcelo Froes é de uma sonoridade impar, tras os sons dos Mouros que certa feita estiveram por terras nordestinas, dos espanhois e a magnetude da batida brasileira que tão bem conhecemos.

E como canta Raimundo Fagner em composição propria neste LP “... Eu não vivo guardado em segredo / Nem no medo, um receio sequer / A não ser quando a morte vier / E me pegar sorrindo querendo ficar / Eu não sei viver de outro jeito / A não ser desse jeito / Detino cigano / Comigo não dá / Pra ficar amargando / Esperando o tempo passar / Até sonhando / E sem saber onde posso chegar / E ficar ...”

“Não diga que eu fiquei sozinho, não mande alguém lhe acompanhar, repare a multidão pecisa de alguem mais alta a lhe guiar..”., este alguém já apareceu, e foi Raimundo Fagner... Ainda bem!

Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva


ERASMO CARLOS CONVIDA ...



* Item de Colecionador *

Em 1980 Erasmo Carlos lançou seu primeiro LP pela gravadora Philips onde cada faixa tinha um convidado especial. Pela história de sua carreira, a frente ele repetiria algumas vezes esta formula, mas nenhuma foi tão boa e marcante quanto este primeiro trabalho que deixou marcas definitivas no universo da musica popular brasileira.

O leque de convidados era indiscutivelmente o que se tinha de melhor no cenário musical da época, a começar pelo ‘Rei’ Roberto Carlos que abre o LP dividindo com o parceiro e “irmão” a belíssima canção “Sentado a Beira do Caminho”, num raro momento de desprendimento dos arranjos que hoje soam tão datados de suas gravações pela antiga gravadora CBS ( hoje Sony Music).

Em seguida quem canta com Erasmo é a Primadona da MPB Gal Costa que imprimi a “Detalhes” um tom melancólico em duo com um de seus criadores. Ainda bem que tal momento foi registrado para um especial de TV que foi ao ar no lançamento do LP. Podemos observar um Tim Maia, amigo dos tempos da meninice de Erasmo e cantor de destaque no cenário musical com sua voz forte e sua presença sempre marcante e com um suingue que até hoje sentimos uma imensa falta neste cenário tão morno atualmente, e Tim faz chacoalhar a canção “Além do Horizonte”.

Temos ainda um Gilberto Gil alegre ao interpretar “Mané João” e uma Rita Lee que nos faz lembrar o melhor da época do disco “Refestança” em parceria com Gilberto Gil completamente solta e irreverente...

Como aprendemos a gostar de Rita nos anos anteriores, e o grupo “A Cor do Som” dá balanço bahiano a canção “Sou Uma Criança, não Entendo Nada” numa época pré axé. A Rainha “Maria Bethânia” acerta como sempre na escolha da canção e faz o mais belo dueto - a meu ver - do LP, a canção “Cavalgada” parece ter sido escrita para a força interpretativa de Bethânia que se encontrava no auge de sua derramada e densa dramaticidade.

A impressão que se tem ao ouvi-la é que estamos vendo-a no palco em um dos momentos mais marcantes de seus shows que já se tornaram eternos em nosso imaginário afetivo musical. Nossa, só comentei metade do LP / CD e olha que ainda falta falar de Caetano Veloso, Jorge Ben, Nara Leão, Wanderléa e as Frenéticas, mas isto e deixo para vocês... Que bom que 1980 não está tão longe assim ...

Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva