sábado, 3 de abril de 2010

LINGUA DE TRAPO



* Item de Colecionador *

Em 1982, numa atividade cultural promovida pelo Diretório Acadêmico da Faculdade que estudava, conheci numa apresentação ao vivo o grupo Língua de Trapo, e o encantamento se deu instantaneamente. Tinha eu apenas 19 aninhos e a certeza que o mundo estava a meus pés ...hehehehe....

O show aconteceu numa das quadras da escola e era um baile de acolhimento de calouros, e estava lá aquele grupo de sonoridade absolutamente paulistana com um vocalista de ascendência oriental, enorme e forte, era uma figura que destoava do restante do grupo devido ao tamanho e do jeito espalhafatoso de vestir-se e comportar-se era absolutamente fantástica esta figura que logo deixaria o grupo.

Após este contato, corri às lojas do centro da cidade de São Paulo atrás de encontrar o LP do grupo que tinha uma capa azul e que por absolutamente falta de dinheiro não havia comprado na noite do baile da Faculdade. Ao comprá-lo a grata surpresa: a bolacha era verde feito aqueles disquinhos de contos de fadas que vendiam em bancas de jornais.

O grupo trazia embutido o conceito da irreverência e do sarcasmo que eram traduzidos nas composições quase sul reais que eles cantavam com a seriedade dos grandes interpretes. Por serem extremamente paulistanos o linguajar beirava as composições do grande Adoniran Barbosa, alias personagem sempre venerado pelo grupo.

Há alguns anos atrás foi lançada uma caixa contendo todos os LPs remasterizados e transformados em CD e um livreto que devem sem duvida fazer parte de qualquer coleção que queira descobrir qual o cenário musical paulista de 1980.

Neste trabalho há citações ao grande Cauby Peixoto e sua adorável canção “Conceição” numa sátira que cutucava a orientação sexual do cantor de maneira sutil e leve mostrando certo respeito necessário a esta figura genial do cenário musical nacional.

Há também uma brincadeira musical com o então best seller do momento o livro “O Que é Isso Companheiro” de Fernando Gabeira que dizia assim “... E quando veio aquela tar de anistia / Nem mais um dia fiquemo no exterior / E hoje já fazendo parte da história / Vendendo memória, hoje nois é escritor...” E impagávelmente engajada é o “Xote Bandeiroso” que diz... “Ai! Meu Deus!/ Essa máquina aperreia / (que aperriação) / Passo o tempo / trabalhando, em completa agonia / Em total escravidão Mas eu já nem penso mais em voltar pro meu sertão (nhanhanhão, em voltar pro meu sertão)..” QUE SAUDADES DOS MEUS 19 ANOS ...

Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br

Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva

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