quarta-feira, 6 de julho de 2011

SURURU NA RODA ME CHEGA ATRAVÉS DE LINDOS AMIGOS.
















"Ganhei no último dia 30 de junho um belíssimo CD de um casal de queridos amigos, “Marisa e Eufrate” desde então ele não sai dos ouvidos é maravilhoso, resolvi não escrever sobre ele já que o grande poeta e escritor “Nei Lopes” o fez com maestria, vale a leitura, vale a compra do CD eis a música brasileira de qualidade."

Segundo o velho filólogo Silveira Bueno, o termo “sururu”, na acepção de briga, conflito, vem do fato de os sururus, caranguejos pretos dos mangues, viverem amontoados e se debaterem em constantes brigas em disputa de espaço. Mas a “roda” de que vamos tratar agora, e em que o nosso Sururu corajosa e prazerosamente se debate é, ao invés de um "mangue", aquele ambiente onde um grupo se reúne informalmente para tocar, cantar e viver o samba e, é claro, o choro. Sim, o choro, estilo que bem mais que aquela coisa eruditóide e meio devagar que alguns pretendem seja, é a face instrumental mais exposta e tradicional do samba - circunstância que, aliás, só enobrece e fortalece tanto um, o gênero, quanto outro, o estilo.

Nascido para tocar e cantar samba e choro, ou seja, a música popular brasileira na sua forma mais carioca e universal, o grupo Sururu na Roda foi criado em 2000. E surgiu a partir do talento, da inventiva e da experiência de uma musicista excepcional, Nilze Carvalho. Por volta de 1975, com apenas 6 anos de idade, Nilze, nascida Albenise de Carvalho Ricardo, era descoberta como executante de cavaquinho, no estilo choro, e logo se apresentava em programas de rádio e TV, inclusive na prestigiosa Rede Globo.

Aos 11, já como bandolinista, iniciava carreira discográfica, fazendo, três anos depois, sua primeira turnê internacional, exibindo-se em teatros na Itália, Espanha, França e Suíça. Mais tarde, apresentou-se em Los Angeles, Nova York e Las Vegas, além de cumprir temporadas no Japão, de 1991 a 1997. Nos anos seguintes tocou profissionalmente na China, Austrália e Argentina. No Brasil gravou a série Choro de Menina, em quatro volumes, e o CD Chorinhos de Ouro, Vol. 4.

Nos anos 90, Nilze resolvia transformar sua musicalidade inata, desenvolvida em casa, em algo mais sólido e formal. E, aí, no curso de licenciatura em música da UNI-RIO, que agora conclui, conheceu Camila Costa (22 anos, voz e violão) com quem, mais o irmão Silvio Carvalho (37, voz, percussão e cavaquinho) e Fabiano Salek (28, voz e percussão) formou o grupo Sururu na Roda. Nilze e Camila, como dissemos, têm formação musical acadêmica já praticamente completa. Fabiano, filho da flautista, cantora e compositora Eliane Salek e do saudoso maestro Marcos Leite, inovador do canto coral na música popular e fundador do Garganta Profunda, grupo do qual nosso jovem músico também faz parte também é formado em licenciatura em música pela UNI-RIO. E Silvio, filho de músico e acompanhante da irmã desde o início de sua carreira internacional, é igualmente músico refinado, embora sem instrução formal completa.

Com esse material esplêndido na mão, foi relativamente fácil ao produtor e arranjador Ruy Quaresma fazer um disco diferente e primoroso. A começar pelo repertório. Alinhavando sambas, maxixes, choros etc. cujas datações vão de 1929 (Dorinha, Meu Amor e Gavião Calçudo) a 1983 (Samba do Grande Amor); aproximando autores aparentemente distantes como Noel Rosa de Oliveira, o maior compositor do morro do Salgueiro, e Chico Buarque; juntando, no mesmo baú de preciosidades, sambas injustamente esnobados como os polêmicos “O Conde e Esperanças Perdidas” este, alvo de uma disputa autoral cabeluda, nos anos 70; trazendo a registro, além de um clássico do samba instrumental, Na Glória, até mesmo a valsa espanholada Santa Morena, ícone do repertório bandolinístico; compondo, enfim, um mosaico da melhor música popular brasileira, Ruy e o Sururu abriram a roda e, literalmente, “deitaram e rolaram”.

Para tanto, contaram com a competência, o talento e a energia dos excelentes percussionistas Marcelinho Moreira, Ovídio Brito e Eber; dos “sopristas” Humberto Araújo, Eliane Salek e Roberto Marques (trombone na faixa 5); dos “cordistas” Alceu Maia (banjo, faixas 2 e 4), Carlinhos Sete Cordas, Luis Filipe de Lima e Nicolas Krassik (violino, faixa 12); e da canja tão fundamental quanto despojada de ?São Chico Buarque - além do próprio Quaresma, ao violão.

O Sururu é isso. Música para ouvir, dançar e cantar junto. E quem já viu o grupo ao vivo, nas noitadas da Lapa ou em ambientes mais contidos, sabe do que estou falando. Falo de Nilze Carvalho, deusa congo-iorubana transbordando música e sensibilidade, liderando o grupo só no olhar, com pouquíssimas palavras e sem nunca altear a voz; e se multiplicando ao bandolim, ao cavaquinho e ao violão, em afinações totalmente diferentes, as notas fluindo de seus dedos e a voz brotando do coração.

Falo de Camila Costa, voz limpinha, cristalina, dando, com seu violão, o tom de leveza e frescor do grupo. Falo de Fabiano Salek, esbanjando energia, estraçalhando na percussão e nos vocais; e usando a voz até como cuíca. Falo do carisma de Silvio Carvalho que, no palco, empresta um brilho todo especial à performance do Sururu; e que, na maior tranqüilidade, segura a harmonia do cavaco quando Nilze sola ao bandolim.

Em comum, os quatro têm uma saudável particularidade: qualquer dia, hora e lugar em que se chegue, vai-se encontrá-los cantando, vocalizando e tocando como se tivessem começando naquele momento. Não se importam que as pessoas dancem: muito pelo contrário! Como dia desses, em que Nilze sinalizando com o olhar, fez com que o grupo repetisse a segunda parte do Brasileirinho, pois o salão estava se enchendo de dançarinos.

Pois o Sururu na Roda é isso! Mas é música para pensar, também. Principalmente no enorme mangue que separa a roda que nós queremos, a da boa música, desse tremendo “sururu” (no mau sentido) que, em nome da tal globalização, andam nos tentando empurrar goela adentro.

Fonte: Nei Lopes

Nenhum comentário: