quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A NEGRA MELODIA DE ZEZÉ MOTTA











Foi através da imagem forte de Zezé Motta na telinha da TV que toda uma geração de brasileiros aprendeu a conhecer as sutilezas da beleza da mulher negra e sua capacidade de trazer, com seu talento, todas as formas de arte que vão do canto a interpretação.

Nunca tirei da memória uma participação que Zezé Motta fez no especial de TV Mulher 80 (já editado em DVD) que emocionadamente ela conta a história de seu pai que não pôde ver seu sucesso... Aquilo me tocou profundamente assim como a interpretação de uma canção que fez a seguir a este depoimento e que neste momento não lembro o nome.

Sempre trouxe para minha casa todos os trabalhos fonograficos de Zezé Motta, e gostei de todos. Nos últimos anos, vinha sentindo falta de trabalhos novos da cantora que um dia roubou meu coração e através da gravadora Joia Moderna pude, nesse começo de 2011, trazer para casa um novo CD de Zezé Motta chamado “Negra Melodia”, onde ela canta canções de Jards Macalé e Luiz Melodia.

“... Nos galhos do arvoredo / ouvi alguém me encantar / só com o seu canto / fui levada para lá / simples de dizer / fácil de entender / alguém que vem de longe para pertinho de você ...” é com estes versos que Zezé Motta encerra seu novo trabalho em CD e ironias a composição é de Jards Macalé rotulado por anos a fio como um “poeta maldito”. Oos versos falam por si e desnudam a hipocrisia racista que reina ainda hoje na grande midia.

O CD nos remete aos grandes LPs lançados por Zezé ao longo destes mais de 40 anos de vida artisticas, e ela gosta de se definir como sendo uma “cantriz”, tudo bem” posso até concordar, mas para mim, Zezé Motta é mesmo uma das maiores cantoras de nossa música, e neste trabalho está cercadas por musicos de primeira linha que constroem arranjos e que tocam com profundidade os ouvidos dos amantes da boa música.

A seleção do repertório é genial. Se num momento Zezé Motta fecha este trabalho com a canção “Encanto” de Jards Macalé citada acima, em outro ela o abre com uma composição de Luis Melodia e Ricardo Augusto chamada “O Sangue não Nega” que diz assim: “... disseram no jornal televisão / que eu não gosto mais de samba, samba / jornal, televisão está no ar / Mas eu sou bamba, bamba / A lógiva se move, deixa estar ..”. Ainda bem que a gravadora Joia Moderna chegou para mover esta lógica e trazer nos de volta esta que é a mais bela estrela negra do Brasil.





Paulo Gonçalo dos Santos
Historiador / Pesquisador de MPB
paulogoncalo@uol.com.br
Andre L. M. Menezes
Revisão Afetiva

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