sábado, 11 de outubro de 2008

QUASE 35 ANOS DEPOIS SIMONE CONTINUA TÃO RARA!



Energia! É esta palavra que me vem à cabeça cada vez que penso, ouço, sinto o canto de Simone Bittencourt de Oliveira, ou simplesmente Simone, a Cigarra que já por quase 33 anos tem enchido nossas vidas de sons.

Impressiona-me ouvir sempre de gente amiga que o canto de Simone transmite paz e tranqüilidade, fico a pensar: "... Que energia boa, pura..."

Cursava História no inicio dos anos 80 quando o país vivia a efervescência da transição para uma sistema político democrático, aliás democracia que ainda buscamos feito adolescentes sonhadores.

Quando ouvi pela primeira vez a voz firme e forte de Simone, estava em meio à ebulição do movimento estudantil, a voz que falava de amor da mesma forma que reivindicava junto conosco um Brasil melhor.

Era época de "Canta Brasil", megashow promovido pela Rede Globo e, que trazia de volta à emissora, o grande Chico Buarque, no Morumbi, maior estádio de futebol de São Paulo. Fui ao delírio junto a milhares de pessoas que soltaram a voz com Simone, vingando-se assim, da derrota da canção de Geraldo Vandré anos atrás num dos festivais da canção. Era na verdade, um grito engasgado que Simone nos ajudou a dar, éramos uma única voz a gritar: "...Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não...".

Que emoção! Hoje, ainda ao rever as cenas registradas em vídeo pela TV, a emoção faz rolar lágrimas saudosas no rosto já marcado pelos desencantos, pelas paixões, pelas decepções, pelas vitórias e derrotas que a vida nos deixa.

Daí em diante, a energia de Simone não deixou de me acompanhar pela vida. A cada canção, cada LP, cada foto eram momentos de alegria, sentia que cada disco era feito para o momento que vivia, mesmo em momentos que discordava de posturas de Simone, sentia que sua energia continuava a vibrar de modo positivo em minha vida.

É realmente incrível, mas para mim, é como se fossemos velhos amigos. Amigos queridos que procuramos em momentos de extrema alegria e de torturantes agonias, é incrível também que nestes anos todos, não fui a todos os shows de Simone e, somente em 2000, vim a conhecê-la pessoalmente. Admito que foi um encontro rápido, mas muito bom.

Assisti a alguns shows, a outros, por pura falta de coragem, não fui. Ver Simone no palco me deixa tão atordoado, que não resisto à quantidade de energia que ela emana. Portanto, vou raramente a seus shows, afinal, sou fraco, sou mortal, sou simples e diante de tamanha estrela, desapareço como os fiéis desaparecem diante de seus deuses.

Já os cds, lps, vídeos e reportagens têm me enchido a alma de alegria, cada detalhe, cada data, cada história me chega como chegam as noticias boas das pessoas que amamos e queremos bem!

Há dez anos reencontrei um amor que havia perdido naquele início dos anos 80, e juntos, estamos construindo uma história baseada no respeito, na compreensão e na paixão. É desnecessário dizer que Simone tem nos trazido momentos de extrema felicidade, e juntos, vamos construindo este caminho difícil de uma relação a dois, mas, que, com o canto de Simone, tem sido mais ameno, e a sete chegou em casa o Gustavo, criança linda que já cantarola e lê as canções da MPB.

A cada foto, a cada vídeo que recebemos, ou a cada Cd que adquirimos nossas almas são banhadas pelas águas mansas do mesmo mar que banha a residência de Simone, no Rio de Janeiro.

O tratamento que há alguns anos a critica brasileira vem dando a Simone é algo que me deixa perplexo. Minha formação de historiador não permite que concorde com absurdos que já foram escritos a respeito de seu trabalho, é necessário lembrarmos que, quem lançou Simone, primeiro nos Estados Unidos e Europa, foi Herminio Bello de Carvalho, e me pergunto, será que os críticos sabem quem é Herminio Bello de Carvalho? Um mestre, ou melhor um Doutor, em MPB, que busca incansavelmente manter viva na memória nacional nomes como o de Clementina de Jesus, Elizete Cardoso e tantos outros. Herminio lançou Simone para o mundo quando já havia lançado o príncipe Paulinho da Viola para o Brasil, ele jamais erraria, como não errou, presenteando-nos com a energia pura e cristalina de Simone.

O canto da Cigarra é o canto de nosso povo, um povo apaixonado, sofredor, mas festivo, cheio de vida e energia. Somos um país jovem, temos pouco tempo de história, mas com certeza, uma parte dela ficará registrada para sempre através da voz cheia de energia de Simone Bittencourt de Oliveira.

Por isso tudo indico a todos leitores o CD e DVD – Simone ao vivo –2005 da gravadora EMI e sugiro, que iniciem a audição ou assistam primeiro as imagens da canção: “A Idade do Céu” (Drexler – Moska) um duo com Zélia Duncan, que diz mais ou menos assim: ... não somos mais / que uma gota de luz / uma estrela que cai / uma fagulha tão só / na idade do céu ... só por esta audição/visão já vale a pena estar vivo e ser brasileiro.

Dedico este artigo a Marilia Aguiar, Renato Fragoso, Carina Simonini , Vania Rocha, Gilson Botari, Catarina Santos e a Chan amigos e fãs de Simone, que iluminam sempre minha caminhada. Abraços fraternos e até a próxima!

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